como também é hábito marsuilta apresenta nas suas publicações temas diversos entre os quais vários ligados à ciência. hoje apresentamos uma entrevista a teresa paiva, a maior especialista da medicina do sono, em portugal e entre as maiores a nível internacional. o segredo da melatonina no sono, os ritmos, o tempo, a luz e a nossa saúde vão estar em destaque.
Teresa Paiva, neurologista e especialista em medicina do sono, participou no princípio deste mês no programa “Ponto de Partida” da Antena 1, apresentado por Eduarda Maio, que teve como tema “os poderes da melatonina”.
teresa paiva
“A melatonina tem um ciclo inverso do ciclo da temperatura do corpo. Enquanto a temperatura desce durante a noite, até às quatro da manha, a melatonina começa a ser produzida a partir das oito horas da noite e sobe até às quatro da manhã”, disse Teresa Paiva.
A especialista explicou em pormenor estes mecanismos. “O nosso ritmo biológico mais estável é o ritmo da nossa temperatura corporal e essa temperatura tem um ritmo que é bifásico, o que quer dizer que no fim do dia começa a descer, tem um mínimo em redor das quatro da manhã e depois começa a subir, alcançando o máximo à hora do almoço. A seguir há um mínimo relativo que coincide com o nosso período de propensão para a sesta, começando a descer até à noite.
A melatonina é hipnogénica e circadiana mas não nos faz dormir. É como se fosse um sincronizador para todo o corpo de que são horas de dormir.
Se à uma da manhã mantivermos a luz acesa ou estivermos a trabalhar com um computador cheio de luz ou outro dispositivo electrónico , a melatonina é bloqueada e o nosso sistema fica altamente perturbado. Tal como um desportista que dá muitas quedas e lesiona o joelho, se fizermos muitas agressões deste género, há a tendência para deslizar o adormecer para horas cada vez mais tardias e o nosso sistema pode ficar danificado.”
Os ritmos circadianos são mais antigos que o sono
Os ciclos e ritmos circadianos foram outro assunto em debate. Teresa Paiva considera que “os ciclos circadianos colocam-nos em sincronia com o Planeta Terra, com a noite e o dia. É preciso não esquecer que somos animais diurnos, ao contrário, por exemplo, da coruja do mocho, do rato. Estamos feitos para sermos animais diurnos, a parte nuclear do nosso dia tem que ser diurno. É um sistema que foi aperfeiçoado ao longo de milhões de anos”
Em relação aos ritmos circadianos, a especialista referiu que estes “são mais antigos do que o sono, pensa-se que apareceram há muitos milhões de anos nas bactérias azuis, as cianobactérias, que existiam nas pocinhas à superfície da terra. Estas bactérias perceberam que quando se multiplicavam durante o dia, a divisão corria mal e começaram a reproduzir-se de noite. Os ritmos circadianos, que hoje existem nas plantas, nos animais, nas bactérias estão na origem da vida, existem desde o princípio da vida.”
Teresa Paiva falou ainda da evolução da ciência nesta matéria: “até há pouco tempo descrevia-se apenas o relógio circadiano que existe no hipotálamo. Hoje sabe-se que estamos cheios de relógios internos, periféricos, no sangue, nos pulmões, no baço, relógios internos para nos sincronizar.”
A especialista considera essencial esta sincronização: “Nós somos animais altamente sincronizados. A regularidade, na alimentação, nas horas de deitar e levantar, é essencial ao nosso equilíbrio.
A extrema variabilidade de hábitos faz com se desregulem os relógios internos, biológicos e o organismo tem de fazer um grande esforço para se adaptar. Estas alterações também afectam o funcionamento hormonal. No principio da noite produzimos hormonas anabolizantes, a hormona do crescimento, a prolactina, a testosterona, também hormonas que nos dão o equilíbrio auto-imune. No fim da noite, produzimos hormonas catabolizantes, o cortisol que nos dá energia.
Quanto há grande variações, quando não temos horários, as células devem ficar descontroladas, deve haver hesitações entre as nossas hormonas , vou eu ou vais tu, quem é que vai hoje…”
As consequências para a saúde podem ser muitos graves, segundo Teresa Paiva: “O crescimento, essencial para a reparação dos tecidos, é afectado. A produção de leptina e grelina também fica desregulada, o que contribui para o aumento do apetite. A testosterona diminui nos homens. Doenças ainda mais graves como o cancro, o Alzheimer, alterações cognitivas diversas também podem ocorrer”
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