Continuamos a mostrar as conclusões do estudo intitulado "Desigualdade de Rendimento e Pobreza em Portugal: As Consequências Sociais do Programa de Ajustamento, coordenado pelo professor do ISEG, Carlos Farinha Rodrigues, em colaboração com Rita Felgueiras e Vítor Junqueira, no âmbito de uma parceria entre a FFMS, o Expresso e a SIC. Desta vez centramo-nos sobre as respostas à pergunta Desigualdade e Pobreza são o mesmo?
Quanto maior é a desigualdade, maior é o risco de pobreza nos países europeus. Em Portugal não é diferente. Os mais pobres foram os que perderam uma maior proporção do seu rendimento durante a crise e isso refletiu-se no aumento da desigualdade. Ao mesmo tempo, essa perda agravou todos os indicadores de pobreza em Portugal. E foram sobretudo as crianças que mais sofreram, fruto dos cortes nas prestações sociais das famílias. Mas o que é mesmo viver em privação material ou com o salário mínimo todos os meses?
O que é a Desigualdade?
O grau de desigualdade da distribuição dos rendimentos é medido através do
coeficiente de Gini, um indicador que ajuda a perceber se num país os rendimentos estão igualmente distribuídos por todas as pessoas (e nesse caso o valor é 0) ou se estão todos concentrados numa só pessoa (nesse caso o valor é 100). Quanto maior for o valor do coeficiente, mais desigual é um país.
DESIGUALDADE E POBREZA DE MÃOS DADAS
Quanto mais desigual, mais pobre é um país
Olhamos para a forma desigual como os rendimentos estão distribuídos num país e acabamos a falar sobre o grau de pobreza existente nesse país. Mas que relação existe entre a desigualdade e a pobreza? Poderá dizer-se que quanto mais desigual mais pobre é um país? Os dados sobre o nível de desigualdade e de pobreza de todos os países da União Europeia mostram que sim.
Há uma forte associação entre os dois fenómenos: quanto maior é o nível de desigualdade na distribuição dos rendimentos entre a população, ou seja, quanto mais concentrado está o dinheiro numa parte da população, mais pobre esse país é. "As transformações ocorridas nos rendimentos familiares e na desigualdade no decorrer do processo de ajustamento ocorrido entre 2009 e 2014 não poderiam deixar de se repercutir na alteração dos indicadores de pobreza. Embora o fenómeno da pobreza, dada a sua natureza multidimensional, extravase em muito o âmbito das desigualdades, os dois fenómenos estão profundamente ligados", lê-se no estudo.
"Nós temos uma economia assente em baixos salários. Uma economia com estas características gera sistematicamente desigualdade e pobreza. Isto significa que não podemos combater a pobreza de forma efetiva sem ao mesmo tempo combater as desigualdades", explica Carlos Farinha Rodrigues.
O que é a Pobreza?
O grau de pobreza é medido através do indicador da
taxa de pobreza. Este indicador verifica quantas pessoas vivem abaixo do limiar de pobreza. Esse limiar atualmente é de 422 euros, ou seja, representa 60% do rendimento mediano dos portugueses. Basta o rendimento mediano subir, para que a o limiar de pobreza também suba, fazendo oscilar a taxa de pobreza.
OS MAIS POBRES FICARAM AINDA MAIS POBRES
Todos os indicadores de pobreza em Portugal
agravam-se durante a crise
O número de portugueses pobres aumentou entre 2009 e 2014 para 2,02 milhões de pessoas, ou seja, mais 116 mil pessoas do que em 2009. Este número significa que um em cada cinco portugueses vive com um rendimento mensal abaixo de 422 euros.
Só que não foi este o único indicador da pobreza que se agravou. Além de ter aumentado o número de pessoas pobres, também se intensificou a gravidade da pobreza – os pobres estão ainda mais pobres e o dinheiro que têm mensalmente para gastar é ainda menos. Entre 2009 e 2014, a intensidade da pobreza aumentou 30%.
"O aumento das situações de pobreza em Portugal nos anos mais recentes acompanhou uma evolução semelhante registada nos países da União Europeia e da zona euro", sublinha o estudo, enquadrando o agravamento da pobreza dos portugueses nessa evolução europeia. "Estes resultados não podem deixar de ser preocupantes, não somente pelo que representam em termos de retrocesso das condições de vida das populações atingidas pelo agravamento da pobreza, mas igualmente por traduzirem um claro insucesso da estratégia Europa 2020, que se propunha atingir até 2020 uma redução de 20 milhões de pessoas em risco de pobreza e exclusão social".
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