O estudo desenvolvido por Carlos Farinha Rodrigues, Rita Felgueiras e Vítor Junqueira (no âmbito de uma parceria entre a FFMS, o Expresso e a SIC), intitulado "Desigualdade de Rendimento e Pobreza em Portugal: As Consequências Sociais do Programa de Ajustamento, revela conclusões importantes no conhecimento desta realidade. marsuilta irá ao longo dos dias mostrando as principais conclusões deste estudo. das quatro perguntas que o estudo tenta responder ficamos por ora pela primeira: Quem mais perdeu com a crise?
O país sentiu uma perda geral de rendimentos, mas essa perda não foi igual para todos. Apesar da diminuição dos rendimentos ter tocado, em geral, todos os portugueses, a perda não atingiu da mesma maneira os mais pobres e os mais ricos. E se olharmos para as idades, foram os mais jovens que sentiram uma quebra mais intensa. Um maior nível de escolaridade não foi suficiente para evitar também uma perda entre quem tem ensino superior.
Quando se olha para a forma como evoluíram os seus rendimentos entre 2009 e 2014, conclui-se que os 10% mais pobres perderam 25% do seu rendimento enquanto os 10% mais ricos perderam 13%.Em termos líquidos, isso significa que o grupo dos 10% mais pobres (o chamado 1º decil) perdeu, em média, 69 euros por mês (que representa a quebra de 25%), enquanto os 10% mais ricos (o 10º decil) perderam 340 euros por mês (menos 13% do que recebiam em 2009).
E por que razão houve essa maior perda em termos relativos entre os mais pobres? “Por um lado, a crise económica em si mesma. E, muito em particular, a exclusão de largos milhares de trabalhadores por conta de outrem do mercado de trabalho teve efeitos devastadores", explica o estudo "Desigualdades do Rendimento e Pobreza em Portugal: As Consequências Sociais do Programa de Ajustamento", acrescentando que o facto de os mais pobres não terem sido diretamente afetados pelos cortes nos salários e nas pensões “não chegou para compensar esses efeitos". E acrescenta: "Por outro lado, as alterações introduzidas nas transferências sociais, em particular no Rendimento Social de Inserção, no Complemento Solidário para Idosos e no Abono de Família, foram determinantes no aumento da pobreza e, simultaneamente, no agravamento das condições de vida das famílias mais pobres".
A análise da evolução dos rendimentos deste estudo considera, assim, que "é um mito" a afirmação de que as classes médias foram fortemente penalizadas no decurso do processo de ajustamento e que as políticas de austeridade preservaram os rendimentos dos mais pobres. "Nem as classes médias foram as que mais sofreram com as políticas seguidas, nem os mais pobres foram poupados no processo de empobrecimento", conclui o estudo.
Os mais jovens perderam mais
Perda acentuada traduz-se no aumento de condições precárias e de pobreza
Entre 2009 e 2014, os jovens com menos de 25 anos sentiram uma perda de 29% dos seus rendimentos, acima da perda média de rendimentos para o conjunto de todos os portugueses (que perderam 12%). Os dados mostram que, no caso destas famílias mais jovens, a perda mensal rondou os 230 euros. O rendimento dos jovens passou a ser assim a representar cerca de dois terços (64%) daquele que é o rendimento médio nacional, quando em 2008 representava 80%.
Os baixos salários, a falta de emprego e a precariedade que caracterizaram o mercado de trabalho para os mais jovens nos últimos anos ajudam a explicar estes números. Em paralelo, é de sublinhar que estas dificuldades acabaram por se traduzir na saída de muitos jovens que procuraram trabalho fora do país.
Ainda que sem dados sobre as idades dos emigrantes, o Observatório da Emigração estima que 540 mil portugueses tenham deixado o país entre 2009 e 2014. Os dados sobre o retorno não ultrapassam a média de 20 mil regressos anuais.Numa situação de menor perda de rendimentos estão os mais velhos, idades acima dos 65 anos, e que viram os rendimentos descer 7% (uma quebra abaixo da média nacional de 12%).
Também os níveis de escolaridade da população permitem outro olhar para a forma como os rendimentos evoluíram. Quem tem um curso superior perdeu menos do que quem tem menos habilitações? A resposta não é assim tão clara.
Antes de mais, é de sublinhar que quem tem um curso superior consegue um rendimento duas vezes acima daquele de quem tem o 6.º ano ou menos. Mas o que os números mostram é que as famílias com o menor nível de escolaridade, 2.º ciclo ou inferior, são as que perderam menos.
ver detalhe (gráficos) da notícia e ver vídeo explicativo do professor Carlos Farinha Rodrigues aqui:
http://portugaldesigual.ffms.pt/quem-perdeu-mais-com-a-crise
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