RECORDAR PARA MELHOR COMPREENDER

RECORDAR PARA MELHOR COMPREENDER

Bob Dylan: compositor, tocador, cantor e escritor

E por tudo isto é também o primeiro nobel da literatura a receber semelhante distinção no mundo da música. Robert Allen Zimmerman, é o seu nome de nascença, mas desde cedo quis ser Bob Dylan em homenagem ao poeta Dylan Thomas, de quem devorava todos os poemas que dele apareciam. De Minnesota deu o salto para Nova Yorque onde conheceu o cantor-activista Woody Guthrie. Cantou-o até mais não e aos poucos entrou no estilo dos blues e do folk. Como ele próprio afirmou "quem quer compor canções deveria escutar tanta música folk, estudar a sua forma e estrutura e todo o material que existe desde há 100 anos". A Academia Sueca concedeu a distinção ao músico “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”. E bem pode dizer-se que está certa a academia pois é o mesmo Bob Dylan que se gosta de ver pertencente a uma irmandade de escritores cujas suas raízes estão no country puro, no blues e na estirpe folk de Guthrie, da família Carter, Robert Johnson y dezenas de "baladistas" escoceses e ingleses.

Marsuilta associa-se à distinção da academia sueca e traz à memória letras de várias canções de Bob Dylan, bem como uma entrevista que concedeu em 2004 e ainda outros link´s onde se pode conhecer o mundo de Dylan. Enquanto dele se escreve, ele continua a dar concertos e a escrever diariamente, um hábito que guarda desde há muito tempo.

http://elpais.com/diario/2004/05/01/babelia/1083366381_850215.html?rel=mas

http://bigslam.pt/noticias/homenagem-do-bigslam-ao-vencedor-do-premio-nobel-de-literatura-de-2016-bob-dylan/

http://cultura.elpais.com/cultura/2016/10/13/actualidad/1476381455_398709.html

http://observador.pt/especiais/bob-dylan-esta-do-lado-certo-da-historia/

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ACONTECE, ACONTECEU OU VAI ACONTECER



Ciclo de cinema no CCB - Lisboa

Próximos filmes: 18 março O LEOPARDO Luchino Visconti (1963)
14 abril OS DEZ MANDAMENTOS Cecil B. DeMille (1956)
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Carlos Paredes - Evocação e Festa da Amizade

Esta evocação realiza-se no dia 19 de Fevereiro, pelas 15 horas, na Salão d' A Voz do Operário, em Lisboa e é organizado pela Associação Conquistas da Revolução.

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Tertúlias em Ciência

Céu e Mar "Making of", acontece no dia 15 de fevereiro, pelas 17 horas (C4.piso3).

Esta sessão promovida pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tem a responsabilidade organizativa de Pedro Ré.

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Vanguardas e neovanguardas na arte portuguesa - Séculos XX e XXI. esta é a nova exposição que está patente de terça a domingo no museu nacional de arte contemporânea, em lisboa.

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XXI Exposição de Pintura e Escultura

Esta exposição que mostra obras de vários artistas de arte contemporânea portugueses vai decorrer no Clubhouse do Golfe, nos dias 11, 12 e 18 e 19 de Fevereiro, aos sábados e domingos, das 12h00 às 20h00. A organização está a cabo do Belas Clube de Campo, do Banco Populare a daPrivate Gallery .

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segunda-feira, 27 de junho de 2016

brexit e uma grande lição

continuamos a mostrar mais um ponto de vista sobre a vitória do brexit, desta vez de joão rodrigues. uma lição dos pobres, velhos e massa trabalhadora, uma crónica para eles em toda a união europeia.



Many Thanks to the English Working Class
Peço desculpa ao leitor pelo título em inglês. Sei bem que o inglês e os anglicismos são uma praga evitável. Trata-se apenas de uma singela homenagem à maioria do povo britânico, que teve a coragem de votar pela mudança no referendo à União Europeia (UE). Uma homenagem aos mais velhos, aos mais pobres, às classes trabalhadoras, aos de baixo. É que não é preciso ser instruído para dar uma lição. E que lição esta, a que foi dada às elites políticas, económico-financeiras, aos de cima, numa sociedade causticada pela polarização social e regional, feita de vencedores e de vencidos da globalização neoliberal, o outro nome da UE realmente existente neste continente. Não creio que aprendam alguma coisa, no entanto, a avaliar por tantas reacções arrogantes.

Quem faz esta homenagem vive, como o leitor, na Europa do Sul, neste rectângulo castigado pela austeridade imposta por Bruxelas, numa moeda única que nunca nos serviu, comandada por Frankfurt; vive numa economia estagnada há quase duas décadas, e endividada externamente em montantes recorde, uma combinação sem precedentes históricos. Tudo isto acontece também porque as elites portuguesas aderiram acriticamente à ideia do pelotão da frente, abdicando de instrumentos de política económica num processo nunca referendado. As elites portuguesas dominantes tiveram um papel crucial em transformar Portugal num indicador avançado da chamada estagnação secular, fenómeno que marca o capitalismo nas suas fases mais desiguais e financeirizadas.

Repare o leitor que durante a campanha do referendo britânico, a Europa do Sul, com o seu desemprego de massas, foi invocada por alguns defensores da saída, pelos que tinham boas razões para tal, como o melhor exemplo do que é a UE: uma ordem pós-democrática, que esvaziou a soberania dos parlamentos e que não a substituiu por nada que fosse competente e decente. Os britânicos levam a sério este problema. Chamam-lhe democracia e quiseram recuperá-la de forma mais integral, quiseram ter um maior controlo sobre a sua vida colectiva.

Não se esqueça o leitor que tiveram e têm de enfrentar o chamado projecto medo, comandado por economistas, os mesmos que garantiam antes da crise financeira, iniciada em 2007-2008, que vivíamos na grande moderação, que os mercados financeiros liberalizados eram o alfa e ómega do progresso e que o euro era a boa moeda para a UE (dois terços dos economistas britânicos inquiridos defenderam tal posição em 1999). Este referendo assinalou o merecido descrédito público da economia convencional. Garantiram e garantem que seria o caos. Esqueceram-se que, para os de baixo, o caos é há muito o outro nome das suas vidas.


O leitor sabe que agora é “ai”, que as agências vão descer a notação; “ui”, que a Grã-Bretanha vai ficar mais pobre por causa da desvalorização da libra. As agências de notação são irrelevantes para Estados monetariamente soberanos e que estão endividados na sua própria moeda. As taxas de juro relevantes são determinadas pelo Banco Central e nunca, repito, nunca, há problemas de insolvência para Estados deste tipo. Os que operam nos mercados no fundo sabem isso. Quanto à desvalorização da libra, desde que esta seja controlada, e sê-lo-á, também pela acção das forças de mercado, enquadradas pela natural cooperação entre bancos centrais, pode ser um estímulo para a economia britânica, como foi durante a crise, ajudando-a num ajustamento há muito visto como necessário: desfinanceirizar, reduzindo o peso da City, e promover sectores mais produtivos. Para isso, ajudará a maior margem de manobra, por exemplo em termos de política industrial, obtida, a prazo, graças à saída da UE. Mas isso não é o mais importante: mais liberal ou menos liberal, será ainda mais o parlamento a decidir formalmente.

O leitor sabe que isso se chama democracia e ainda se lembra como foi por cá, num breve período, antes de as regras do mercado interno fazerem sentir todos os seus efeitos, e sobretudo antes do euro. Pelo menos nessa altura convergíamos com as economias europeias. E agora o leitor pergunta: e nós? Nós precisamos de aprender com o nosso mais velho aliado. O quê? Que o pelotão da frente não nos serve: precisamos de sair do euro de forma negociada, idealmente, e, entre outras, obter excepções às regras do mercado interno. Em suma, recuperar instrumentos de política industrial, comercial, cambial ou orçamental. Tudo numa UE de geometria variável, de menu, com menos poder de Bruxelas e mais poder dos Estados. Caso contrário, o nosso futuro será mais do mesmo: declínio das forças produtivas da nação, da energia vital de um país esvaziado. O leitor não quer isso, eu sei. Tem, temos, é de ter a coragem de querer o que tanta falta faz.

Primeira nota de rodapé. Para mais detalhes sobre a necessária desfinanceirização, e sobre as vantagens e os desafios da saída do Euro que lhe estão associadas em Portugal, remeto para o capítulo final do livro A Financeirização do Capitalismo em Portugal, escrito em coautoria com Ana Cordeiro Santos e Nuno Teles.

Segunda nota de rodapé. Esta nova invocação visual do principal livro do historiador marxista E. P. Thompson (1924-1993) serve também para lembrar um intelectual público que, em 1975, fez campanha contra a CEE, o tal clube capitalista, em linha com dois terços dos militantes do Partido Trabalhista, em oposição à sua ala direita e à esmagadora maioria dos conservadores. Existia uma cultura socialista na altura. Perderam, mas lutaram. Sem nostalgias, mas também sem condescendências, é preciso reconhecer que o europeísmo vinculado à UE é o resultado da total erosão dessa cultura. E que o que se perde cá em baixo nunca, mas nunca, se conquista lá em cima...

texto original retirado do blogue ladrões de bicicletas: http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2016/06/again.html#more

domingo, 26 de junho de 2016

no reino unido venceu o brexit e porquê?

após o referendo de dia 23 de junho a europa e meio mundo está aflito. inesperado, imprevisto, talvez não se formos pensando nas causas que levaram primeiro que tudo ao próprio referendo e depois ao seu resultado. marsuilta vai neste após referendo tentar colocar aos seus leitores opiniões que nos ajudam a explicar este resultado e suas consequências, que estas sim são incertas. hoje deixamos a opinião de joão ramos de almeida.

 
 

A imigração é tudo menos um assunto menor
Demos de barato que foi o tema da imigração que motivou o recente terramoto no Reino Unido e que se irá propagar pela União Europeia. 

Não é por acaso que os povos migram. Cada caso é uma história, mas talvez se possa olhar para as grandes linhas. Na massa, a imigração é sempre a válcula de escape de um sistema desequilibrado. Seja pela guerra, seja pelas diferenças de condições económicas e sociais. Os números dos gráficos seguintes, juntamente com mais informação, podem ser encontrados no último boletim estatístico sobre os movimentos migratórios no Reino Unido, divulgado pelo organismo estatístico oficial britânico.




Portanto: 
1) Não parece ter sido a imigração de fora da UE que está a inundar o Reino Unido. Essa baixou parece estar em recuo desde 2005 e parece estar mais ou menos estabilizada desde 2013; 
2) a que está a subir - desde 2012 - é precisamente a imigração que vem da União Europeia. 

Olhemos, mais em pormenor: 

 
Ora:
1) A emigração que está a subir é a que vem da Bulgária e Roménia;
2) mas sobretudo dos países de UE15 - Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Irlanda, Grécia, Suécia e Reino Unido (embora se exclua esse grupo). E este grupo tem estado a crescer desde 2012. Em 2015, representavam quase 50% da imigração da UE.

Algum sugestão para esse facto?


Sim, claro. É por "trabalho" que se está a verificar a subida de imigração. Mas a minha pergunta era mais qual a razão porque há mais pessoas da União Europeia a procurar trabalho no Reino Unido?

Pois, lá teremos de voltar a falar de todo o edifício da política seguida desde o rescaldo da crise económica de 2007/8 e que adoptou aquela teoria de que a austeridade ir provocar um milagre económico na União Europeia.

artigo original retirado do blog ladrões de bicicletas: http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/

quarta-feira, 22 de junho de 2016

"Não temos outra escolha senão a vitória", quem o diz é o presidente sírio Bachar al-Assad

a síria foi a eleições e por cá, nas rádios e televisões, pouco ou quase nada ouvimos falar. o silenciamento é arma costumeira dos medía quando o tema é infenso aos seus interesses. se dos candidatos, se do processo e dos resultados pouco se soube, do discurso pronunciado no início deste mês pelo presidente bachar al-assad muito menos. e valia e por isso vale bem a pena lê-lo, conhecer o que diz um presidente que teve os dias contados e um país praticamente destruído. valeu-lhe aqueles que ele própria denomina por heróis, que salvaram o país e ainda o salvam, conjuntamente com alguns povos amigos, casos da rússia, irão e china. marsuilta deixa aqui o discurso emotivo, também por isso impressivo e sobretudo realista e esclarecedor para quantos queiram perceber o que se passou e passa na síria.

Senhoras e Senhores,

Estas eleições não foram as eleições normais. Aconteceram num momento de grandes tensões territoriais e políticas, regionais e internacionais. Realizaram-se em condições internas extremamente difíceis que levaram alguns a predizer o seu fracasso e que na melhor das hipóteses seriam desconsideradas pelos cidadãos.

Mas o que aconteceu foi exatamente o oposto. Uma vez mais, o povo sírio surpreendeu o mundo por sua ampla participação num importante acontecimento nacional e constitucional. A taxa de participação sem precedentes é uma mensagem clara dizendo ao mundo que quanto mais aumentam as pressões, mais o povo mantém a sua independência; quanto mais as tentativas de ingerência se intensificam, mais o povo mantém o respeito pelas obrigações ditadas pela Constituição, garante da sua independência e alavanca da sua estabilidade.
                                                      presidente sírio bachar al-assad

       Uma determinação nacional que se traduz também pelo grande número de candidatos nestas eleições, os quais assim deram testemunho do seu discernimento e do seu patriotismo.

E é também uma importante mensagem para vós, os deputados deste povo, porque esta participação sem precedentes apesar das circunstâncias, apesar de todas as ameaças e perigos, vos confere uma responsabilidade extraordinária para com os cidadãos que colocaram suas esperanças nas vossas mãos para que vós os protejais pelo vosso trabalho honesto e constante, que deverá ser proporcional à sua confiança e à amplitude dos desafios impostos à Síria.
                                                       
É assim que o vosso Conselho, pela primeira vez inclui o ferido que sacrificou um pedaço de seu corpo para que o corpo da pátria permaneça inteiro; a mãe do mártir, seu pai, suas irmãs, que viram seus entes queridos sacrificar suas vidas para que a Síria permaneça; o médico misericordioso com a aflição económica dos seus concidadãos que respeitou a nobreza de sua profissão prestando-lhes cuidados de saúde gratuitos; o artista que pegou em armas para defender sua terra e sua honra.

É também um Conselho onde se elevarão mais as vozes das mulheres, dos jovens, dos diplomados com altos estudos universitários e daqueles que contribuíram, com seus próprios meios materiais para a defesa de sua pátria e seu povo.

Cada um de vós fostes eleitos pelo povo para trazerem a sua voz, para o defenderem e o protegerem. Façamos de maneira que a finalidade, o método e a bússola do nosso trabalho, sejam trabalhar para os outros, não para nós próprios, exatamente como fizeram o homem ferido, o mártir e todos aqueles que foram sacrificados. Sem essa bússola, a Síria não poderá sair do que atravessa. Sem essa bússola, não há espaço para o progresso; não há lugar para cumprir; não há lugar para ideias inovadoras e criativas.

Quando pensamos e agimos de forma honesta e sincera, primeiro no interesse dos outros, e não no nosso, eliminamos os obstáculos devido à corrupção e à má gestão. Torna-se então possível e até mesmo por certo fazer face aos desafios colocados pela guerra e confundir o negligente, o corrupto, o desencaminhado, que não poderão mais complicar a situação pelas razões pessoais que os motivam.

Quando pensamos e agimos de forma honesta e sincera, primeiro no interesse da pátria, não do nosso, vosso controlo do Executivo torna-se efetivo e eficaz, capaz de avaliar o seu desempenho a fim de servir o cidadão. É o que todos esperam do vosso Conselho.

Senhoras e Senhores,

A responsabilidade nacional que repousa sobre vós, hoje, vem num momento em que o mundo vive circunstâncias excepcionais, devido a conflitos internacionais, principalmente devido às tentativas do Ocidente para conservar a sua posição dominante a qualquer preço. Este Ocidente que recusa toda a cooperação com qualquer outro Estado, ou grupo de Estados, como se se tratasse uma questão de vida ou de morte para ele.

Esses conflitos internacionais deram origem a conflitos regionais entre Estados que procuram preservar a sua soberania e sua independência e Estados que se esforçam por servir os interesses de outros, mesmo que isso prejudique os interesses do seu povo.

Conflitos que se repercutiram diretamente na nossa região em geral e sobre a Síria em particular, complicando uma situação já complicada. Mas tudo isto de forma alguma nos liberta de responsabilidades a nós Sírios no que está acontecendo, pois se, porque se a nossa "casa" tivesse sido forte, sólida, solidária, livre de corrupção e traição em alguns dos seus recantos, as coisas não em não teriam chegado ao ponto onde estão atualmente.

Conflitos em três níveis – internacional, regional e local – que claramente se repercutiram no processo político que se desenrolava em Genebra. Entre o conflito regional e o internacional infiltrou-se o grupo de indivíduos, portadores de nacionalidade Síria que consentiram em servir de fantoches tanto para os Estados mais atrasados, como para Estados que sonham recolonizar os países da nossa região, mesmo por procuração.

Mas face a esses traidores, há o grupo de patriotas sírios, leais perante o sacrifício dos nossos mártires e dos nossos feridos, procurando através de ação política preservar a sua terra e a independência das decisões da sua pátria.

Não é segredo para ninguém que desde o início dos acontecimentos, a própria quintessência do processo político vislumbrada pelos Estados que apoiam o terrorismo regional e internacional é destruir o conceito de pátria, atacar incansavelmente a nossa Constituição com todos os tipos de iniciativas visando afasta-la do seu campo de ação e condiciona-la sob várias terminologias, nomeadamente o que chamam de «período de transição».

Evidentemente, visando a Constituição, esperavam demolir os dois principais pilares de qualquer Estado. Primeiro, as instituições, começando pelo Exército que defende a pátria e garante a segurança do seu povo, contra o qual eles foram particularmente concentrados desde o início e no decurso de todas as discussões sobre o futuro de a Síria e as suas instituições. Em seguida a identidade nacional, partilhada por várias componentes étnicas e religiosas, na qual se concentraram a partir do momento em que perceberam era o fundamento da resistência da pátria.

Uma vez que seu "plano terrorista" falhou apesar de toda a destruição e massacres perpetrados, adquiriram a convicção que o essencial do seu "plano político" ainda poderia materializar-se pelo ataque à Constituição. Na verdade, o seu plano inicial consistia em fazer de forma que o terrorismo dominasse completamente o país concedendo-lhe uma pertença qualidade de "moderação", e depois 'legitimidade', decidida evidentemente pelo estrangeiro, que instalaria um caos absoluto impondo como única saída uma Constituição étnica e confessional transformando um povo ligado à sua terra natal em grupos rivais anexados às suas seitas e apelando à intervenção estrangeira contra os seus compatriotas.

O que vos digo é evidente. Se olharmos para o nosso Este e para o nosso Oeste, as experiências confessionais falam por elas próprias. Não há nenhuma necessidade de reavaliar a questão depois de decénios de experiências equivalentes na nossa região.

O sistema confessional transforma os filhos de uma mesma pátria em adversários e inimigos, em que cada parte irá procurar aliados, que, neste caso, não se encontram na Síria, mas no exterior. Com efeito, uma relação construída na suspeita, no ressentimento e no ódio vai encontrar seus aliados no exterior. É então que os Estados colonialistas surgem como protetores de tal ou tal grupo e a sua interferência nos assuntos do país em questão encontra a sua justificação e a sua legitimidade. Depois, assim o que o plano de partilha esteja bem consolidado, passarão para a etapa da divisão, da repartição.

Por isso, eles transmitem este conceito primeiro no exterior, para que os governos e os políticos do mundo adquiram a convicção de que a única solução é através de uma Constituição confessional, dado que estamos em guerra civil devido a diversidade étnica e confessional da nossa região que faria que já não pudéssemos viver juntos. Em seguida, iriam exercer pressão sobre nós para que aceitássemos a sua lógica e nos convencêssemos que não poderíamos viver juntos senão através da Constituição que eles nos propusessem.

Ora, como todos sabemos, a unidade não começa pela geografia, mas pela unidade dos cidadãos, porque quando os cidadãos de um mesmo país estão divididos, a partição geográfica torna-se uma questão de tempo e terá lugar no momento em que considerem adequado.

Mas, porque não lhes permitimos levar a Síria nessa direção para a precipitar no abismo, propusemos desde o início de Genebra 3 um documento que estabelece os "princípios" sobre os quais deveriam estabelecer-se as discussões com as outras partes. Acho que devem todos perguntar quais são essas outras partes, visto que até agora não negociamos senão com o "facilitador" que não é a outra parte, nem ele, nem qualquer membro de sua equipa, que são apenas intermediários. Eis a razão pela qual se vós me perguntardes por que mencionei "outras partes", eu vos direi que é para a prosa, porque não há outras partes.

É na base de um acordo sobre esses princípios propostos pela Síria, ou quaisquer outros princípios gerais, que as discussões poderão passar a outros assuntos, tais como o "governo de União Nacional", que irá trabalhar com uma comissão competente na elaboração de uma nova Constituição. Que será submetida á aprovação do povo por referendo antes de passar a novas eleições legislativas. Um tema sobre o qual expliquei o essencial em janeiro de 2013 aquando do meu discurso na Casa da Ópera de Damasco [1]

Voltemos aos princípios. Por que colocámos princípios? Porque são necessários em todas as negociações, particularmente entre os Estados. Porquê? Porque as negociações precisam de referências. Eles afirmam que as referências podem ser encontradas na resolução 2254 (2015), exatamente como alegaram para resolução 242 (1967) [2] . Um exemplo que demonstra que, quando tais resoluções são aprovadas na sequência de compromissos entre as potências, cada qual usa uma terminologia que se adapta aos seus interesses. O que faz que acabemos por nos encontrarmos com um texto que é ambíguo ou contraditório em si mesmo.

Assim, se voltarmos ao comunicado de Genebra de 2012, acharmos que eles falam, ao mesmo tempo, da soberania da Síria e de um órgão de transição, designado como "Governo de transição". Mas se falam de soberania da Síria, como ocorre que se decida do seu sistema de governo sem ter em conta a vontade do seu povo? Soberania impede o estabelecimento de um sistema desse tipo e vice-versa.

É portanto evidente que não participamos em negociações para aceitar tais propostas. Foi por isso que redigimos o "documento de princípios" com o objetivo de evitar que uma das partes acrescente o que bem lhe parecer. Estes princípios, vou citá-los rapidamente:

Soberania e unidade de a Síria com a rejeição de qualquer interferência externa. Rejeição do terrorismo.

Apoio à reconciliação.

Preservação das instituições.

Levantamento do embargo.

Reconstrução.

Controlo das fronteiras.

Alguns outros princípios contidos na Constituição atual e nas precedentes como diversidade cultural, liberdades do cidadão, independência do poder judiciário, etc.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Adivinhem quem lixou a Caixa

o artigo de ontem saído no jornal público de joão miguel tavares sobre o estado actual da caixa geral de depósitos recua uns anos, início do primeiro mandato de josé socrates e ao ex-administrador da caixa armando vara. neste artigo podemos perceber quem são os mais credores da caixa e que negócios foram feitos que levaram à necessidade hoje da recapitalização do maior banco nacional .depois da leitura do artigo também como o seu autor já não nos espantamos da caixa necessitar de quatro mil milhões!

 

 
 
José Sócrates foi eleito primeiro-ministro em Março de 2005. Quatro meses e meio depois (Agosto de 2005) correu com o anterior presidente da Caixa Geral Depósitos, que não chegou a aquecer o lugar (Vítor Martins, 10 meses no cargo), e nomeou Armando Vara administrador, com a responsabilidade de gerir as participações financeiras da CGD em várias empresas estratégicas. Sete meses depois, a comunicação social anunciava que os seus poderes haviam sido “reforçados”. Cito o PÚBLICO de 9 de Março de 2006: “Armando Vara assumiu agora as direcções de particulares e de negócios das regiões de Lisboa e do Sul, assim como a direcção de empresas da zona Sul. Entre as suas competências estão ainda a coordenação das participações financeiras do banco público, EDP (4,78%), PT (4,58%), PT Multimédia (1,27%), BCP (2,11%) e Cimpor (1,55%).”
Vara permaneceu três anos como administrador da Caixa Geral de Depósitos, até sair em 2008 para a vice-presidência do Millenium BCP, com o dobro do salário, o sucesso que se conhece e um pedido de licença sem vencimento para poder continuar nos quadros da Caixa. Ainda em representação da CGD, Vara foi administrador não-executivo da PT, desempenhando um papel decisivo na oposição à OPA da Sonae em 2006, devido aos poderes mágicos da golden share. Justiça lhe seja feita: não se pode dizer que a CGD tenha sido um tacho para Armando Vara. Foi muito pior do que isso: a Caixa transformou-se num imenso caldeirão onde os mais variados interesses se foram servir, cabendo a Vara decidir quem enchia a gamela. (Ouvido no âmbito da Operação Marquês a propósito do empreendimento de Vale do Lobo, Armando Vara recusou tal ideia, tendo declarado que estas decisões nunca eram aprovadas por uma só pessoa, mas por um colectivo da CGD.)
E que gamelas encheu a Caixa nos últimos anos? O Correio da Manhã teve acesso a uma auditoria recente e revelou a lista dos maiores credores do banco. A lista está ordenada por exposição ao risco de crédito, mas eu prefiro ordená-la pelas imparidades já registadas – e aí o cenário é simultaneamente desolador e esclarecedor. No topo da lista está o grupo Artlant, que tencionava construir em Sines um daqueles megaprojectos PIN pelos quais o engenheiro Sócrates se pelava: uma “unidade industrial de escala mundial” para a produção de 700.000 toneladas/ano de um componente do poliéster, que levaria à “consolidação do cluster petroquímico da região de Sines”, segundo um comunicado do Conselho de Ministros de Junho de 2007. José Sócrates chegou a lançar a primeira pedra em Março de 2008 e agora cabe-nos a nós apanhar os calhaus: 476 milhões de dívida, 214 milhões em imparidades. 
Em segundo lugar (imparidades: 181 milhões; exposição: 271 milhões) estão as Auto-estradas Douro Litoral. São 79 quilómetros adjudicados em Dezembro de 2007 e cada milímetro de alcatrão deve hoje três euros e meio à CGD – ou seja, a mim e a si, caro leitor. Em terceiro vem o famoso empreendimento de Vale do Lobo, o tal com o qual o Ministério Público está a tentar agarrar José Sócrates, e que tem uma astronómica dívida de 283 milhões (imparidades: 138 milhões). Segue-se um grupo imobiliário espanhol que não conheço (Reyal Urbis), mas que fiquei com muita vontade de conhecer, e dois nossos velhos conhecidos: o grupo Espírito Santo e o grupo Lena, todos com dívidas acima dos 200 milhões. Digam-me: com uma lista destas, alguém se espanta por a Caixa estar a precisar de quatro mil milhões? Eu não.
Rectificação: Na primeira linha, onde estava "três meses e meio" passou a estar, correctamente, "quatro meses e meio".
 
 






 

 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

em portugal os mais pobres são os mais doentes

as desigualdades em saúde nos últimos 10 anos aumentaram em Portugal. a conclusão foi feita pelo observatório português dos sistemas de saúde, que claramente mostra que as pessoas com baixos rendimentos e baixa escolaridade são pessoas com maior risco de doença. para um dos coordenadores do observatório, josé aranda da silva “continuam a ser os mais pobres os mais doentes e os mais doentes os mais pobres”.

 
 
As desigualdades sociais em saúde agravaram-se nos últimos anos em Portugal. “Seja qual for a doença, a desigualdade aumentou claramente entre 2005 e 2014, independentemente do sexo e da idade”, concluem os investigadores do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) no relatório de Primavera que esta terça-feira é apresentado em Lisboa. Os riscos de adoecer aumentam exponencialmente com a ausência de escolaridade, com os baixos rendimentos ou nos idosos, sublinham. “Continuam a ser os mais pobres os mais doentes e os mais doentes os mais pobres”, sintetiza José Aranda da Silva, um dos coordenadores do observatório.
A problemática das desigualdades em saúde é um principais temas em foco no relatório de Primavera deste ano do OPSS - que não se pronuncia sobre as políticas deste Governo por terem passado “apenas sete meses entre a posse” do executivo e a conclusão do documento. O fenómeno das desigualdades é determinante, até porque tem um impacto significativo na esperança de vida, como provou um recente estudo publicado no Journal of American Medical Association - que demonstrou que, entre 2001 e 2014, “os homens mais ricos dos Estados Unidos da América viveram em média mais 14,6 anos do que os homens mais pobres”.
Em Portugal, este tipo de avaliação está por fazer. O que se sabe é que, em 2014 (Inquérito Nacional de Saúde) as pessoas sem formação apresentavam um “risco de ter má saúde” seis vezes superior em comparação com as pessoas com mais educação (ensino secundário ou mais). “Para o mesmo indicador, a desigualdade parece ter aumentado no intervalo de dez anos, tal como para a doença crónica”, sublinham os investigadores. Para se ter uma ideia, o risco de diabetes é mais de quatro vezes superior no grupo sem formação secundária e superior. E enquanto a prevalência desta doença na população em geral com mais de 15 anos era 11,3% em 2014,  passava para 24,1% se analisado o mesmo grupo etário só com formação básica.
Sistematicamente superiores ao observado noutros países europeus (em 2014, o “risco de má saúde auto-reportada” para as pessoas sem educação era 6,5 vezes superior em Portugal quando na Europa era 3,5 vezes superior), as desigualdades em saúde devem ser combatidas através da aposta num sistema de educação de alta qualidade desde os primeiros anos de vida, com programas sistemáticos de prevenção e rastreios, com empregos de qualidade na idade adulta e com impostos e regulação, por exemplo nas gorduras, sal e açúcar, lê-se no relatório.

“Procuram-se novos caminhos”

Começando com uma retrospectiva dos últimos seis anos, os investigadores do OPSS insistem na necessidade da procura de “novos caminhos” -  é esse aliás o título deste relatório -, após os duros anos de crise económico-financeira que o país atravessou.
Na saúde mental, uma das áreas “mais fustigadas” pela crise económica e outro dos temas em foco neste documento – que destaca o aumento dos suicídios, sobretudo nos homens em idade laboral, e o problema da demência que afecta pelo menos 60 mil idosos –, os investigadores preconizam que se passe de uma concepção de cuidados generalizados para “uma concepção de cuidados especializados”,  se reactive o Plano Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas e se defina um orçamento nacional para esta área. 
Também é abordada a questão de prescrição excessiva de bezodiazepinas (ansiolíticos e hipnóticos). Recorda-se, a propósito, um recente estudo com doentes internados num serviço de psiquiatria ao longo de um ano e que concluiu que 80% da amostra apresentava valores correspondentes a oito comprimidos diários de diazepam, o que é “deveras preocupante”.  
Foi igualmente avaliada a participação das associações de doentes na definição de políticas de segurança, que parece ser ainda residual - por exemplo, apenas 7,5% das notificações de reacções adversas dos medicamentos são feitas por pacientes.  Seis associações de doentes foram ouvidas e as conclusões também não são animadoras: há múltiplos constrangimentos à sua participação no desenvolvimento de políticas para a segurança e faltam meios humanos e financeiros. Aqui, defende-se a necessidade de definir o estatuto legal do “doente perito”. “Se os doentes não forem envolvidos no sistema, isto vai por água abaixo”, avisa Aranda da Silva.
A falta de unidades de cuidados paliativos, num país em que 62% dos doentes morre nos hospitais (cerca de 65 mil pessoas por ano),  também merece censura. Além dos números de camas e de apoio domiciliário de cuidados paliativos continuar consideravelmente abaixo do recomendado, há muitas assimetrias regionais, lamentam.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

China – a relevância e o poder

marsuilta deixa hoje um artigo de opinião de pedro jordão sobre a china de hoje. diz pedro João que "é preocupante a débil noção que o Ocidente tem da presente China. Há uma perigosa subavaliação".  

Preparar inteligentemente o futuro depende cada vez mais da nossa compreensão da actual China.
Na maior parte da sua história de 4 mil anos a China permaneceu algo isolada. Há menos de 4 décadas esta nação, povoada por 1 quinto da Humanidade, decidiu integrar-se internacionalmente. Esta interacção transforma o Mundo e a própria China.
As escalas são imensas. A população chinesa é dupla da soma populacional da Zona Euro e dos Estados Unidos. Shandong, uma das 23 províncias chinesas, possui uma população superior à de qualquer país europeu. Xinjiang tem uma superfície maior que a área combinada da Alemanha, da França, do Reino Unido e da Itália.
 
Após 3 décadas de explosivo crescimento económico, a economia da província de Jiangsu é maior que a da Suíça. O PIB per capita de Xangai é superior ao da Arábia Saudita. Enquanto a economia da Zona Euro cresceu cumulativamente 0% durante os anos de crise (2009-2015) a da China cresceu 75,8% no mesmo período. Medida em paridade de poder de compra (ppp) a economia da China ultrapassou a dos Estados Unidos em 2014, tornando-se na maior do mundo. Os europeus, que praticamente não conseguem crescer economicamente, apontam enfaticamente a desaceleração da economia chinesa que em 2015 cresceu quase 7%, representando 30% do crescimento económico mundial.
No passado a China necessitava do investimento ocidental. Agora o mundo necessita do seu capital e dos seus consumidores. Em 2015 a China investiu na Europa quase 500 milhões de Dólares por semana.
Há décadas quase todos os chineses eram pobres. Agora formam a maior classe média do mundo, que já é superior à população dos Estados Unidos. O poder de compra dos chineses tornou-se num motor de crescimento da economia global. É o maior mercado mundial de produtos de luxo.
Os chineses fazem agora turismo no estrangeiro. Em 2015 foram 120 milhões e são o grupo que mais gasta nos destinos. Em armazéns famosos de Paris há letreiros em chinês e em Roma estão polícias chineses para ajudar na segurança dos seus turistas.
O desenvolvimento acelerado induziu poluição que pesa sobre muitas cidades. Mas a China aprende com os erros e em 2013 tornou-se no líder mundial do investimento em energias limpas. Este país é o maior emissor de gases de efeito de estufa, mas em parte porque a sua população é enorme. Se calcularmos aquelas emissões per capita vemos que, em média, cada chinês polui menos que um alemão, um holandês ou um dinamarquês, metade de um norueguês e 1 terço de um norte-americano.
O Ocidente tende a reter uma imagem ultrapassada da China, de mero produtor de bens de mão-de-obra intensiva e baixa tecnologia. A China é agora o maior produtor global de uma vasta gama de altas tecnologias. É o maior exportador mundial de tecnologias da informação e ascende ao topo de tecnologias do séc. XXI como a genómica, a nanotecnologia, as energias renováveis ou a biotecnologia. Produz 71% dos telemóveis no mundo e, desde 2013, é o maior investidor do mundo em robots industriais.
A China está a construir o maior radiotelescópio do mundo, tem 4 bases científicas na Antárctida, em 2007 enviou a primeira sonda à Lua, está a construir uma estação especial em órbita e o próximo astronauta a caminhar na Lua será provavelmente chinês.
Mais de 700 milhões de chineses utilizam já a Internet, mais do dobro da população da Zona Euro. Há 1,3 mil milhões de utilizadores de telemóveis na China, incluindo 500 milhões de utilizadores 4G.
Em poucas décadas a China conseguiu retirar da pobreza 500 milhões de seres humanos, o maior sucesso de erradicação de pobreza na história da Humanidade.
A China era rural, agora é urbana. Neste momento, 1 em cada 10 seres humanos vive numa cidade chinesa.
Nos estudos internacionais da OCDE sobe educação (PISA) Xangai ocupa o primeiro lugar global no domínio da matemática, da ciência e da leitura entre os jovens, muito acima de países como Portugal.
Enquanto a fragilidade financeira na Europa limita forças militares actualizadas e fortes, a pujança da China permite-lhe criar um enorme poder militar.
 
artigo original em:https://www.publico.pt/mundo/noticia/china--a-relevancia-e-o-poder-1732069

terça-feira, 7 de junho de 2016

A importância do diagnóstico precoce na pessoa com Alzheimer

tornou-se uma questão de saúde pública, não a doença de alzheimer mas também as restantes demências. sabe-se que em cada 24 segundos há um novo cado de demência na europa. todos os anos aparecem 1,4 de pessoas desenvolvem demência a. em Portugal estima-se que hajam 153 mil pessoas com demência e destas 90 são com alzheimer. marsuilta apresenta um artigo de Laura Brito
mestre em psicologia clinica e da saúde.

 
Cerca de três em cada dez idosos que vivem em lares das misericórdias sofrem de demência e 80% têm “deterioração cognitiva”, revela um estudo elaborado pela União das Misericórdias Portuguesas (UMP).
A Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência. Em virtude de sua incidência e natureza devastadoras, caracteriza um problema de saúde pública em todo o mundo (Guerrero, Garófano e Tovar, 2005; Podewils et al., 2005). Face ao envelhecimento da população nos estados-membros da União Europeia os especialistas preveem uma duplicação destes valores em 2040 na Europa Ocidental. Todos os anos, 1,4 milhões de cidadãos europeus desenvolvem demência, o que significa que a cada 24 segundos, um novo caso é diagnosticado. Em Portugal estima-se que existam cerca de 153.000 pessoas com demência, 90.000 com Doença de Alzheimer.
Compromete fundamentalmente as áreas do cérebro responsáveis pela memória, pensamento e linguagem. As causas são desconhecidas e não há tratamento específico.
Os sintomas são variados e incluem a desorientação espaciotemporal e a inabilidade para realizar as tarefas do quotidiano. Nos estágios iniciais, pode estar comprometida apenas a memória. Nos estágios mais avançados, a doença evolui para mudanças na personalidade, alterações de comportamento e agressividade.
Habitualmente, o seu início é lento, insidioso e evolui de forma progressiva, sendo difícil de detetar pelas pessoas que o rodeiam. Existe, de facto, uma fase assintomática ou pré-clinica em que a doença de alzheimer ainda não está suficientemente desenvolvida para provocar alterações no funcionamento cognitivo.
A progressão da demência de Alzheimer está dividida em três fases:
  • A fase inicial que dura em média de dois a quatro anos. É marcada pela perda lenta e gradual da memória recente. As alterações comportamentais acompanham esta evolução, havendo dois tipos de comportamento: apatia, passividade, desinteresse, e outro marcado pela agressividade, a irritabilidade, o egoísmo, a intolerância e a agressividade. Nos casos de apatia é importante o diagnóstico diferencial com a depressão. Alterações da memória e desorientação espacial podem causar estados depressivos e desinteresse por atividades até então normalmente praticadas.
  • A segunda fase evolui entre três a cinco anos, sendo que se agravam os sintomas da fase anterior. Relaciona-se com o comprometimento das áreas corticais do lobo temporal, afetando atividades instrumentais e operativas.
    Iniciam-se as dificuldades motoras, instalam-se afasias (perda quase total da capacidade de expressão de palavras como símbolos do pensamento), apraxias (impossibilidade de executar movimentos coordenados como marcha, escrita) e as agnosias (incapacidade de identificar objetos pelas suas caraterísticas). A marcha pode se apresentar prejudicada, os movimentos lentificados e emagrecimento. As queixas de roubos de objetos pessoais, a desorientação no espaço e tempo e a dificuldade em reconhecer familiares, tornam-se comuns. A presença de delírios, alucinações e agitação psicomotoras são mais frequentes.
    Os doentes perdem a capacidade de ler e entender o que lhes é solicitado. Manifestam a repetição de palavras ou frases curtas e desordenadas. A iniciativa se torna quase ausente, o vocabulário restrito, o pensamento abstrato ausente. É comum perderem-se mesmo dentro de casa. Instala-se um total estado de dependência.
  • Uma terceira fase é caracterizada pela memória de longo prazo bem prejudicada, capacidade intelectual e iniciativas deterioradas. O doente torna-se indiferente ao meio. Estabelece-se um estado de apatia, de prostração ao leito ou à poltrona. O mutismo e o estado vegetativo se concretizam e ocorre a perda de autonomia total.
Até à presente data não existe cura para a Doença de Alzheimer. No entanto, existem medicamentos que retardam a progressão da doença e aliviam os sintomas. Existem intervenções não farmacológicas realizadas por psicólogos que ajudam a:
  • Manter as capacidades;
  • Promover o bem-estar;
  • Promover a ocupação e o envolvimento social.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

no brasil factos recentes mostram claramente o carácter golpista do impeachment

a conspiração foi montada, o impeachment obtido mas as gravações agora reveladas de sérgio machado com a própria cúpula do seu partido - o PMDB - mostram que  os verdadeiros objectivos de provocar no país um golpe de estado são indesmentíveis. perante estes factos o pacto político-jurídico instalado para colocar em prática reformas anti-democráticas e abafar e estacar casos de corrupção como o lavo-jato, está abalado e, queremos crer, vai quebrar. para já em 17 dias de presidência de temer já são dois os ministros que saíram do governo por questões de corrupção e outras...

 
para reflexão marsuilta divulga o artigo de reflexão de  renato rebelo intitulado:

 Luz no tabuleiro da crise

 
Entre o céu e a terra e perante a Nação brasileira e o mundo a trama golpista é desnudada, desmascarada, passando por verdadeira autópsia a conspiração montada pelo consórcio conservador, formado pela direita, mídia grande e o “mercado”. Os fatos recentes atropelaram a tentativa de farsa montada pelo impeachment, na qual os golpistas apareciam como vestais clamando contra a corrupção do PT e a “corrupção nunca vista nos governos” Lula e Dilma. Neste presente torna-se patente que somente a volta da presidenta Dilma pode restaurar a democracia. Essa é a fresta de luz que permite iluminar o tabuleiro da crise infindável.
O fator Sergio Machado revela a trama golpista.
O bando de conspiradores não conseguiu esconder sua patranha por mais tempo, porquanto entre eles o que existe é uma verdadeira pocilga, num vale tudo para se salvar quem puder. É assim que Sergio Machado (operador financeiro do alto escalão do PMDB), ex-tucano, ex-presidente da Transpetro, na tentativa desesperada de se safar, gravou conversas reveladoras com a cúpula do PMDB em seu acordo de delação premiada. Toda borra sai do recôndito. E comenta-se que mais ainda estará por vir.
As bombásticas revelações das conversas grampeadas trazem à luz do dia o que muitas vozes empenhadas na luta legalista percebiam e denunciavam. E mesmo a imprensa internacional que assinalava a trajetória da conspiração.  Só que os acontecimentos são ainda mais eloquentes – escancara a prova real do golpe. Em suma revelam que o processo de impeachment, talhado para esconder o golpe de Estado, apeando do poder a presidenta da República Dilma Rousseff, tinha que seguir essa via pela necessidade de sua emergência – didaticamente exposta por Romero Jucá a Aécio Neves.
Primeiro por causa da essencialidade das reformas constitucionais que eles impunham. Estas não poderiam ser explicitadas e defendidas numa eleição direta, por seu alto teor impopular. Sendo assim a única viabilidade para aplicação de tais reformas seria pelo caminho da exceção, um impeachment arranjado como se sucedeu, comprometido com uma causa fraudada – sem crime de responsabilidade – e viciado na sua origem. Portanto tiveram que contar numa aliança fundamental com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, enredado em delitos de corrupção e réu no STF. Foi o meio de o golpe ser disparado.
Segundo e mais emergencial, era preciso conter a “sangria”, essa “porra”, segundo Romero Jucá, se referindo a operação Lava Jato. E exprimindo entre eles, sem nuances, seus temores a respeito dessa operação, considerando que o “novo” governo de Temer, tendo tomado o poder poderia conter as investigações e deste modo protegê-los através de algum acordo. Eles deixam transparecer suas boas relações e aquiescência com “alguns” ministros do STF e setores do poder de Estado, ou mais especificamente se vangloriam em contar com um tipo de pacto político-jurídico para sustentar o poder golpista.
Terceiro não escapa também suas previsões pessimistas acerca da eleição presidencial de 2018, denotando não contar com candidatos e meios programáticos viáveis para vencer esse pleito, podendo ser uma saída por meio do governo Temer, acordando “certas condições”, sendo uma forma de “transição” de como resolver seus enroscados dilemas eleitorais em 2018.
Governo interino reverte o programa aprovado nas urnas.
A esta altura dos insólitos acontecimentos em que vive nossa pátria amada Brasil, apesar da mídia grande, sobretudo as organizações Globo, comprometida até as entranhas com o golpe, não pode abafar as assombrosas revelações. Entretanto, jogam tudo para enviesar e truncar a informação, tentando salvar a conquista do poder golpista, para isto operando para preservar prioritariamente o presidente interino. No entanto não adianta diversionar e confundir, o momento é muito grave e singular, a realidade se impõe mais nítida: o impasse político se complicou e se exacerbou.
Por conseguinte essa nova situação de mais agravado impasse político começa com o trágico 17 de abril e vem desde o afastamento da presidenta Dilma Rousseff e vigência do governo interino de Michel Temer. A crescente desmoralização do governo interino, diante dos fatos recentes revelados entre eles, evidencia mais a sua grande vulnerabilidade política e jurídica. Sem ou com a interferência do STF, é cada vez maior a perda de legitimidade desse governo. Não é claro do ponto de vista constitucional que um governo interino, com afastamento temporário da presidenta eleita, se torne já como um poder definitivo, iniciando seu próprio mandato, desmontando toda estrutura governamental e definindo um programa que leva até à mudança da Constituição, no pacto social estabelecido, em reverso ao programa da presidenta eleita por mais de 54 milhões de votos.
Ele já estabelece novo pacto numa viragem do acordo político anterior consagrado nas urnas. Em verdade passa a prevalecer a vontade do Congresso, então, se constituindo numa efetiva eleição indireta, um golpe parlamentar e não a vontade originária direta do povo, contrária ao Estado democrático de direito. Uma excrescência na qual a justiça suprema ainda está omissa.
Tudo isso é a prova do apetite usurpador do poder do balaio golpista na sua ânsia em dividir os frutos da rapinagem em proveito próprio, desprezando o próprio cuidado de legitimar o governo intruso – é a prova de gente desse quilate.
O governo Temer se prenuncia aceleradamente em desmontar o que encontra de conquistas democráticas, desenvolvimento social e avanço da soberania nacional; passa longe dos avanços culturais e das conquistas de gênero. Prepara-se para forte arrocho nas conquistas sociais básicas e, insensatamente, anuncia o congelamento dos gastos em saúde e educação a partir do mais baixo patamar dos últimos dez anos. Esta é uma involução para além de décadas, que se vinga este governo vai consistir no maior retrocesso civilizacional na história moderna do Brasil. O PSDB que chega ao poder por esse atalho golpista, depois de derrotado nas quatro sucessivas eleições presidenciais, é o artífice do pacote de mudança do marco regulatório de exploração do pré-sal, rapidez das privatizações e do realinhamento às potências capitalistas-imperialistas. Como em todo golpe de Estado no Brasil, este segue o caminho clássico: a cabeça e a mão da Secretária de Estado dos Estados Unidos estão presentes. Como sempre o seu feito aparece gradativamente.