RECORDAR PARA MELHOR COMPREENDER

RECORDAR PARA MELHOR COMPREENDER

Bob Dylan: compositor, tocador, cantor e escritor

E por tudo isto é também o primeiro nobel da literatura a receber semelhante distinção no mundo da música. Robert Allen Zimmerman, é o seu nome de nascença, mas desde cedo quis ser Bob Dylan em homenagem ao poeta Dylan Thomas, de quem devorava todos os poemas que dele apareciam. De Minnesota deu o salto para Nova Yorque onde conheceu o cantor-activista Woody Guthrie. Cantou-o até mais não e aos poucos entrou no estilo dos blues e do folk. Como ele próprio afirmou "quem quer compor canções deveria escutar tanta música folk, estudar a sua forma e estrutura e todo o material que existe desde há 100 anos". A Academia Sueca concedeu a distinção ao músico “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”. E bem pode dizer-se que está certa a academia pois é o mesmo Bob Dylan que se gosta de ver pertencente a uma irmandade de escritores cujas suas raízes estão no country puro, no blues e na estirpe folk de Guthrie, da família Carter, Robert Johnson y dezenas de "baladistas" escoceses e ingleses.

Marsuilta associa-se à distinção da academia sueca e traz à memória letras de várias canções de Bob Dylan, bem como uma entrevista que concedeu em 2004 e ainda outros link´s onde se pode conhecer o mundo de Dylan. Enquanto dele se escreve, ele continua a dar concertos e a escrever diariamente, um hábito que guarda desde há muito tempo.

http://elpais.com/diario/2004/05/01/babelia/1083366381_850215.html?rel=mas

http://bigslam.pt/noticias/homenagem-do-bigslam-ao-vencedor-do-premio-nobel-de-literatura-de-2016-bob-dylan/

http://cultura.elpais.com/cultura/2016/10/13/actualidad/1476381455_398709.html

http://observador.pt/especiais/bob-dylan-esta-do-lado-certo-da-historia/

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ACONTECE, ACONTECEU OU VAI ACONTECER



Ciclo de cinema no CCB - Lisboa

Próximos filmes: 18 março O LEOPARDO Luchino Visconti (1963)
14 abril OS DEZ MANDAMENTOS Cecil B. DeMille (1956)
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Carlos Paredes - Evocação e Festa da Amizade

Esta evocação realiza-se no dia 19 de Fevereiro, pelas 15 horas, na Salão d' A Voz do Operário, em Lisboa e é organizado pela Associação Conquistas da Revolução.

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Tertúlias em Ciência

Céu e Mar "Making of", acontece no dia 15 de fevereiro, pelas 17 horas (C4.piso3).

Esta sessão promovida pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tem a responsabilidade organizativa de Pedro Ré.

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Vanguardas e neovanguardas na arte portuguesa - Séculos XX e XXI. esta é a nova exposição que está patente de terça a domingo no museu nacional de arte contemporânea, em lisboa.

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XXI Exposição de Pintura e Escultura

Esta exposição que mostra obras de vários artistas de arte contemporânea portugueses vai decorrer no Clubhouse do Golfe, nos dias 11, 12 e 18 e 19 de Fevereiro, aos sábados e domingos, das 12h00 às 20h00. A organização está a cabo do Belas Clube de Campo, do Banco Populare a daPrivate Gallery .

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

combate-se o terrorismo na europa com violações de liberdades, direitos e garantias?!!

deixamos aqui parte do editorial do público de 28 jan pois é o espelho dos dias de hoje na europa e mundo: "Lentamente, a intolerância e o terrorismo vão impondo a sua lei, afectando o nosso modo de vida e deitando por terra valores que há muito julgávamos indeléveis. Liberdade política, tolerância religiosa, justiça baseada em códigos democraticamente aprovados, igualdade de oportunidades - são princípios básicos que vão esmorecendo à medida que o medo toma conta do mundo. Na Europa a irracionalidade vai usurpando direitos, liberdades e garantias que séculos de vidas perdidas e muito sangue derramado consagraram como pilares do Estado moderno. Ergueram-se muros na Hungria, controlam-se cada vez mais fronteiras no espaço Schengen, confiscam-se jóias aos refugiados na Dinamarca, tapam-se estátuas no Vaticano, enquanto uma França em pleno estado de emergência, se prepara para fazer uma revisão constitucional musculada contra os direitos civis". e onde a ministra francesa da justiça se demite. também por ser significativa esta demissão marsuilta mostra o artigo de ana Fonseca pereira também no jornal público de 27 jan 2016.


                                                 Taubira era vista como a figura mais progressista no executivo de François Hollande Patrick Kovarik/AFP




Ministra da Justiça demitiu-se em protesto contra revisão constitucional que prevê retirar a dupla nacionalidade francesa a condenados por crimes e delitos terroristas. "Escolhi ser fiel a mim mesma", afirmou.
François Hollande abriu a porta e Christiane Taubira, a última representante da “esquerda da esquerda” no Governo francês, anunciou nesta terça-feira a sua demissão. A ministra da Justiça era a voz dos que se opõem à musculada revisão constitucional com que o executivo quer responder aos atentados em Paris e a sua saída culmina a inflexão à direita – no discurso, na economia e na segurança – iniciada pelo Presidente socialista há dois anos.
O jornal Le Monde escreveu que a demissão da ministra, de 63 anos, foi tantas vezes antecipada que a sua concretização acaba por ser uma surpresa. Sobretudo por ter sido anunciada pouco antes de o primeiro-ministro, Manuel Valls, ter apresentado no Parlamento a última versão da proposta de alteração constitucional que incide sobre dois pontos, ambos polémicos: a inclusão na Lei Fundamental das circunstâncias em que pode ser imposto o estado de emergência (actualmente em vigor, mas enquadrado apenas numa lei orgânica) e a cláusula para retirar a nacionalidade a cidadãos condenados por terrorismo.

Taubira, que se opõe sobretudo à segunda iniciativa, tinha já sido afastada da gestão do dossier. Mas a sua posição continuava a ser um embaraço, sobretudo num momento em que o executivo precisa “de uma ética colectiva e uma coerência forte”, recordou Hollande aos seus ministros na reunião semanal desta quarta-feira, citado pelo seu porta-voz.
Oficialmente foi a ministra da Justiça quem se demitiu, durante um encontro com Hollande e Valls, em que todos concordaram que seria melhor sair antes de a revisão constitucional começar a ser debatida na Assembleia Nacional, a 3 de Fevereiro. Fontes citadas pela AFP asseguram, contudo, que a sua partida começou a ser desenhada no final da semana passada, quando Hollande recebeu Taubira no Eliseu antes de partir para a Índia. “Foi a escolha da coerência e [a demissão] permite que se avance na reforma constitucional”, disse ao Le Figaro um conselheiro do executivo.

A Frente Nacional e os Republicanos não tardaram a aplaudir o afastamento daquela que consideram “a pior ministra da Justiça da Vª República” e a quem não pouparam acusações (de laxismo, de minar a autoridade do Estado), nem insultos – Taubira, natural da Guiana, é uma das poucas mulheres negras da política francesa e foi alvo de inúmeras tiradas racistas.
Numa conferência de imprensa pouco antes de entregar a pasta, Taubira defendeu o seu legado – a começar pela aprovação, em 2013, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, contra os protestos da direita e as manifestações encabeçadas pela Igreja Católica – e explicou que foi “um grande desacordo político” com a orientação do Governo que a levou a sair, depois de tantas vezes ter dito que queria continuar a ser a voz dissonante do executivo. “Escolhi ser fiel a mim mesma, aos meus compromissos, aos meus combates.”
De partida, repetiu o que tem dito desde que, a 16 de Novembro, o Presidente socialista anunciou no Congresso que a “França está em guerra” e iria responder com dureza inédita ao terrorismo que três dias antes tinha deixado 130 mortos nas ruas de Paris. “O perigo terrorista que nos ameaça é grave, mas sabemos como combatê-lo. Não devemos conceder-lhe qualquer vitória, nem militar, nem diplomática, nem simbólica”, disse a agora ex-ministra.
Com a partida de Taubira torna-se quase hegemónica a linha de Valls, da ala mais à direita do Partido Socialista, que Hollande chamou em 2014 para chefiar o governo e com quem tem vindo progressivamente a alinhar-se. O novo ministro da Justiça, o até agora presidente da comissão de leis Jean-Jacques Urvoas, é como o primeiro-ministro um defensor de mão pesada na resposta ao terrorismo, tendo sido relator da dura lei de espionagem aprovada em Maio.

Mas a ministra, que silenciou as críticas a esta aproximação ao centro, era também “uma espécie de álibi do governo para tranquilizar o eleitorado de esquerda descontente com a viragem securitária”, escreveu o Le Monde em Dezembro, a última vez que a sua demissão esteve iminente. Ela garantira que a revisão constitucional não iria incluir a retirada de nacionalidade, o Eliseu veio prontamente desmenti-la.
Apoiado nas sondagens que mostram o apoio da população a uma resposta inflexível ao terrorismo e temendo as acusações de laxismo dos seus rivais de direita às presidenciais de 2017, Hollande mostra-se pouco disposto a contemplações. Já anunciou a intenção de prolongar por mais três meses o estado de emergência – a declaração inicial expira a 26 de Fevereiro e o Conselho de Estado, a mais alta instância administrativa do país, recusou nesta quarta-feira uma petição que exigia a sua cessação imediata.
E o primeiro-ministro Valls assegurou, durante a audição na comissão de leis da Assembleia Nacional, que a proposta para retirar a nacionalidade aos condenados por crimes e delitos terroristas não faz qualquer menção aos cidadãos binacionais – pressuposto que Taubira dizia ter um pesado valor simbólico, por discriminar os nascidos em França de origem estrangeira em relação aos “franceses de puro-sangue”. Valls adiantou, no entanto, que Paris vai ratificar a convenção de 1954 que proíbe a criação de apátridas, o que na prática impossibilita que a punição seja adoptada contra os que têm unicamente passaporte francês.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

estados unidos e arábia saudita em parceria no apoio aos rebeldes na síria

um artigo saído há dias no the new york times explica a colaboração estreita entre a arábia saudita e os estados unidos, através da cia, no apoio aos rebeldes da síria contra o governo de bashar al-assad. parceria aliás que vem já dos tempos do afeganistão, do próprio irão e em áfrica, por exemplo. apoio que se traduz num trabalho conjunto no terreno, ou através do financiamento da arábia saudita para treino e armamento por parte da acção camuflada dos serviços secretos dos eua. leia o artigo e perceba as intricadas teias desta aliança.

U.S. Relies Heavily on Saudi Money to Support Syrian Rebels

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

à primeira volta marcelo rebelo de sousa é o 20º presidente de portugal

após o escrutínio de ontem o ciclo das presidenciais é fechado com a vitória de marcelo rebelo de sousa. o artigo de opinião de joão gobern apresenta uma imagem do que o comentador (de tudo e de todos), a presidente marcelo fez na sua campanha eleitoral. vamos ver como será a presidente.

 Zé Maria
 
O Presidente eleito, professor emérito, provou-se capaz de aprender: quem antes soçobrara (nas candidaturas a primeiro-ministro e a presidente da Câmara de Lisboa) por excesso de voluntarismo, triunfou agora com base na reserva mental. Não opinando, para não hostilizar. Não demarcando, para aglutinar. Não personalizando, para universalizar. Marcelo Rebelo de Sousa passou mais de uma dúzia de anos a dar notas e a distribuir sentenças. Desta vez, em estreia, não apareceu de peito feito: preferiu passar entre os pingos da chuva, para não estragar a popularidade acumulada.
Construiu a sua imagem dando opinião sobre tudo, o que também lhe permitiu ser dono e senhor da sua agenda. Fez uma campanha "à Zé Maria" (o vencedor do primeiro Big Brother português, moço barranquenho que se furtava a confrontos e projetava uma ideia de sabedoria calma, depressa desfeita pela vida real), aderindo a uma moda política nacional: a gestão dos "silêncios inteligentes" (José Manuel Durão Barroso é o exemplo supremo) que, por algum tempo, nos soam a "superioridade moral" para depois se revelarem exemplos de vacuidade.
Honra lhe seja feita, Marcelo venceu ontem o seu terceiro referendo - quando era líder do PSD, triunfou nas consultas populares sobre o aborto e sobre a regionalização. Agora, foi a sua figura telegénica que referendámos, com o auxílio de uma esquerda pouco empenhada e de mais uns quantos "candidatos" que, como era expectável, acabaram por arder na fogueira das vaidades. Fez falta António Guterres para equilibrar a balança. Mas aceita-se a sua sintética explicação: "O Presidente é um árbitro e eu gosto é de jogar à bola." Por apurar, fica o "equipamento" escolhido pelo novo presidente.
Resta saber que Marcelo trabalhará em Belém: o "professor sabichão", como foi chamado, ou este Zé Maria da política. O segundo não nos serve para nada. Com o primeiro, corremos o risco de passar do autismo do presidente cessante, entrecortado com birras e teimosias que o encolheram drasticamente à vista de todos, para alguém ferozmente hiperativo. Suprema ironia é ver Passos Coelho e Paulo Portas entre os derrotados. O ex-primeiro-ministro por ter designado, em congresso partidário, um perfil de candidato (Rui Rio, para quem quis ler) em tudo oposto ao de Rebelo de Sousa. O chefe do CDS, de partida quiçá irrevogável, por ter engolido um sapo gigantesco com a defesa do voto em Marcelo, seu velho inimigo pessoal. Depois de, em eleições anteriores, ter apoiado Cavaco, seu alvo preferencial (ou único?) durante anos, bem pode dizer-se que fechou o seu ciclo com arrependimentos e emendas. Restar-lhe-á, no futuro, uma candidatura à presidência. De quê? Depois logo se vê.
 
João Gobern -DN - 25 jan.2016

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

para onde queremos ir?

em vésperas de eleições presidenciais e em dia dito de reflexão, marsuilta propõe um voltar atrás para recordar o discurso sincero e pungente, na sua força e realismo, passados quase três anos, da actriz joana manuel, por ocasião da conferência nacional em defesa de portugal soberano e desenvolvido, realizado em fevereiro de 2013, na faculdade de ciências de lisboa. meditemos nas palavras brilhantes de joana manuel e façamos delas a nossa reflexão para amanhã em consciência votarmos num portugal que se quer decididamente soberano e desenvolvido. que se quer por isso com direito ao trabalho, à educação, à cultura, à saúde, à segurança social, à liberdade, conquistada por milhares que não desistiram de lutar. lutemos então também através do voto contra a hipocrisia e falsidade, contra o pensamento dominante, a cultura dominante, que nos é inculcada a todo o instante. saibamos destrinçar quem realmente pode defender os interesses de quem mais precisa, daqueles que ignoram e não lutaram por abril porque à ditadura sorriram, sorriem  hoje e são complacentes com a perversidade deste sistema capitalista, que empurra 3 milhões de pessoas para a pobreza, quase metade trabalhadores. lutemos por um portugal justo e digno, votemos num presidente que faça cumprir a constituição e que dê esperança a todos que a perderam.

 
 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

por uma segunda volta

por uma segunda volta é o título que rui sá escolheu para o seu artigo no jornal de notícias desta semana. só com uma segunda volta a pele de cordeiro que marcelo vestiu cairá por terra porque o que ele diz agora não foi o que disse e fez antes. e porque tão popular anda marcelo que vitorino salomé dedicou-lhe  um momento musical tão especial...a não perder!


                                            vídeo de vitorino Salomé - bom dia marcelo

Se há evidência nesta campanha eleitoral é a de que só uma segunda volta permitirá separar as águas, clarificando as opções que verdadeiramente se colocam para o exercício das funções de presidente da República para os próximos cinco (10?) anos.
De facto, e por força da estrondosa derrota que a direita sofreu nas eleições de 4 de outubro, o candidato apoiado por essa mesma direita teve de travestir-se, vestindo a pele de cordeiro.
Assistimos, assim, a uma sucessão de afirmações e de atos que claramente não casam com o perfil do candidato. O homem que foi secretário de Estado, deputado, autarca, presidente do PSD e conselheiro de Estado nomeado por Cavaco afirma-se "independente". O homem que defendeu e patrocinou propostas do PSD com vista ao desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde arvora-se em "defensor" desse mesmo serviço. O homem que, claramente, foi apoiante do regime fascista e colonial (mas baldando-se à tropa que isso da defesa das colónias era para os outros...) diz-se, agora, "ser da esquerda da direita". O homem que se destacou nas artes da intriga política afirma-se como o "único capaz de construir pontes". O homem que disse que era necessário "Cristo voltar à Terra" para que ele fosse candidato à presidência do PSD - coisa que o foi passado poucas semanas sem que se tenham lido notícias desse regresso divino... - aparece-nos, agora, a apregoar o valor da sua palavra. O homem que, durante 10 anos, nos entrou dentro de casa por intermédio do pequeno ecrã, critica, agora e com evidente populismo, os outros candidatos que têm de gastar dinheiro para fazerem chegar a sua mensagem.
Mas não é apenas Marcelo a vestir essa pele de cordeiro. Os seus mais relevantes defensores apoiam-no, mas procuram esconder-se na sombra. Passos Coelho afirma que não aparece na campanha eleitoral para que as presidenciais não sejam confundidas com a segunda volta das legislativas. Marcelo, mais criativo (com a sua conhecida veia de entertainer que tudo diz para nos fazer sorrir...), diz que Passos Coelho (e Portas) não aparece na campanha eleitoral porque o PSD e o CDS andam muito envolvidos com as eleições intercalares de S. João da Madeira...
Honra seja feita a Alberto João Jardim (pagando a presença de Marcelo, em anos anteriores, nos célebres festivais do Chão da Lagoa?), que, tal como os líderes do PSD e do CDS na Madeira, aparece às claras a apoiar Marcelo, defendendo que só ele pode "equilibrar o país ao centro" - sabendo-se o que significam, para Jardim, as palavras "equilíbrio" e "centro" estamos conversados...
Por isso, uma segunda volta teria o condão de fazer Marcelo (como diria Jorge Jesus...) "sair da toca". Tendo de se assumir como o candidato do projeto derrotado a 4 de outubro e que, nos últimos quatro anos, conduziu o país ao estado em que se encontra.
Por isso, e como diz Alberto João Jardim, a direita deseja que Marcelo ganhe à primeira volta, porque "à segunda [volta] é mais difícil"...
Também por isso, venha lá uma segunda volta
rui sá -jornal de notícias-18jan.2016

aos 93 anos morre o arquitecto nuno teotónio pereira

nuno teotónio pereira foi mentor de uma arquitectura popular, empenhou-se socialmente através da sua profissão, figurando como pessoa de destaque contra o estado novo. na sua obra ganhou destaque a sua transformação daquilo que eram os modelos de bairros sociais. marsuilta deixa aqui o testemunho da jornalista ana sousa dias, para quem o arquitecto "era o mestre que catalisava a criatividade e as ideias novas e que não concebia o trabalho sem partilha".




O arquiteto Nuno
O ateliê dele na Rua da Alegria era conhecido como "a sacristia". Todos passaram por lá, arquitetos ou não, por aquelas salas onde se desenhava à mão em estiradores de tampo inclinado. Nuno Teotónio Pereira era o mestre que catalisava a criatividade e as ideias novas e que não concebia o trabalho sem partilha. Todos passaram por lá, como recorda Ana Tostões no texto que lhe dedica, nomeando alguns dos que foram colegas e discípulos, sempre tratados como pares. Faziam arquitetura e muito mais, pensavam as novas ideias do modernismo e da vida, juntos porque era das várias vontades e reflexões que tudo nascia. Sempre de cigarro aceso, Nuno Teotónio falava numa voz metálica, com uma lentidão particular e tenaz, sem palavras ao acaso. Era uma enciclopédia que apetecia ouvir, um sábio sem segredos nem vaidades. O que ele fez enquanto arquiteto está resumido nas páginas de Artes deste jornal, com testemunhos de alguns dos muitos que o admiraram. Perdeu a fé já quando passava dos 50 anos, crítico da hierarquia da Igreja de então, ele que conhecia os melhores e os piores recantos e doenças do país. Fez habitação social com um respeito notável pelos moradores e é quase uma homenagem poética que o Prémio Pritzker deste ano tenha sido, há poucos dias, atribuído a um outro homem dessa causa, o chileno Alejandro Aravena. Ajudou a traçar novos bairros como Alvalade e os Olivais e, com Nuno Portas, levou ao sublime a simplicidade na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde vai ficar hoje para que possamos despedir--nos. Ver as imagens dele a sair da prisão de Caxias na noite de 27 de abril de 1974 ou a discursar ao lado de Soares e Cunhal naquele primeiro 1.º de Maio é recordar como este homem especial fez da liberdade o valor maior de uma vida inteira. Aquele que aos 18 anos tirou o H do nome Theotónio e iniciou um caminho que pôs todos, novos e velhos, a tratá-lo apenas por Nuno.
cronica escrita no DN 21 jan.2016- pode ler aqui

deixamos também o que no jornal público (cultura ípsilon) foi publicado sobre a morte do arquitecto nuno teotónio pereira ler aqui

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Investida reaccionária na ordem do dia - América Latina na encruzilhada

A contra-ofensiva geral dirigida desde Washington contra os processos progressistas na América Latina alcançou, finalmente, resultados de monta, com previsível repercussão na correlação de forças ao nível regional e mesmo mundial. artigo escrito por luís carapinha

Nas eleições presidenciais na Argentina, a vitória por magra vantagem do candidato assumidamente neoliberal, Macri 1, na segunda volta, disputada a 22 de Novembro, encerra 12 anos de Governo peronista do chamado kirchnerismo 2. Na Venezuela, a braços com uma complexa conjuntura económica, agravada pela longa baixa do petróleo, e o desgaste provocado por campanhas permanentes de agressão económica, confirmou-se o êxito eleitoral da coligação antibolivariana nas legislativas de 6 de Dezembro. A sua expressão na nova Assembleia Nacional superou, contudo, o previsto. Os 112 deputados afectos à MUD 3 correspondem ao patamar de maioria qualificada de dois terços no parlamento de 167 lugares, conferindo amplas prerrogativas de iniciativa legislativa e institucional às forças da contra-revolução 4. Inaugura-se, deste modo, uma nova fase da grande confrontação representada pelo processo libertador e anti-imperialista, vivido na Pátria de Bolívar nos últimos 16 anos. Cabe reparar que, apesar dos elementos inovadores trazidos pela Constituição bolivariana e o modelo de democracia participativa, a experiência e escopo da revolução venezuelana não almejou transcender o quadro institucional da representação burguesa. Realidade que não surpreende, se atendermos, não só, à influência conservada por sectores economicamente poderosos, mas, sobretudo, ao facto de a revolução bolivariana constituir um processo transformador por completar e aprofundar.
 
Entretanto, no Brasil o presidente da Câmara de deputados, Eduardo Cunha – indiciado por suspeitas de corrupção –, deu seguimento no dia 2 de Dezembro ao pedido de abertura de um processo de impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff, reeleita em 2014 por 54 milhões de brasileiros. Acção que carimba os planos golpistas acalentados pela grande burguesia, que demonstra impaciência e um apetite voraz em ajustar contas e recuperar terreno perdido, para voltar a concentrar na plenitude os comandos do poder político. Estes desenvolvimentos colocam em risco o trajecto de 30 anos de «construção democrática» que sucedeu ao período da ditadura militar no gigante sul-americano (1964-1985). Na mira da direita brasileira e do imperialismo figura, igualmente, a orientação externa do Palácio do Planalto imprimida sob a direcção de Lula e Dilma, mormente, o compromisso com o desenvolvimento dos espaços de cooperação multilateral, tanto no plano continental das Américas – a CELAC, UNASUR e o próprio MERCOSUR –, como à escala internacional mais ampla. É o caso, nomeadamente, da participação do Brasil no espaço do BRICS 5, cuja consolidação causa profunda inquietação aos interesses e agenda do grande capital transnacional e aos poderes dominantes da Tríade capitalista no mundo (EUA, UE e Japão).
 
Não é, pois, coisa pouca o que está em causa nas batalhas travadas pela soberania e o progresso social na América Latina e Caraíbas, nesta nova fase que se abre de resistência e recomposição de forças, visando a salvaguarda das conquistas e avanços alcançados.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

marcelo rebelo de sousa o "herdeiro" malabarista

Desde 1973 que conta as histórias que quer, como quer, explicando Portugal como se fosse como ele diz, mas que não passa de um país que ele inventa semanalmente a seu gosto. artigo escrito por manuel loff.


Ele é, por definição, um herdeiro. Filho de dirigente salazarista que, com 53 anos em 1974, havia feito todo o cursus honorum da ditadura (Mocidade Portuguesa, deputado, subsecretário de Estado, governador colonial, ministro), Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) foi “educado para ser político”, como escreve o seu “biógrafo consentido”, Vítor Matos (VM), que assim se autodefine no livro de 2012 onde reúne informação preciosa obtida do próprio biografado, e que aqui citarei. Marcelo é um herdeiro – não apenas no sentido estrito de primogénito de uma das figuras mais típicas dessa elite de funcionários fiéis que Salazar e Caetano recrutavam, cuja legitimidade repousava exclusivamente na lealdade para com o Chefe, mas também como produto (e produtor) de uma universidade classista que, na definição de Pierre Bourdieu (1964), é “a própria instância de reprodução dos privilégios e da preservação dos interesses dos herdeiros”. A tal ponto MRS se terá sentido a vida toda um herdeiro que logo aos 27 anos (1976) quis escrever as suas memórias. A maioria delas não eram suas mas sim daqueles de quem ele era herdeiro. “Tinha conhecido o salazarismo por dentro e vivera o marcelismo, lançara o Expresso, estivera na fundação do PPD e vivera a Constituinte. Tinha histórias para contar.” (VM, 319)
“Se havia gente que o achava afilhado de Caetano” - e não o era, por falta de vontade deste - “ele deixava achar”, assegura o padre João Seabra (VM, 86). Desde os “10 ou 12 anos” que o pai Baltazar o leva a assistir aos lanches de sábado no restaurante A Choupana, em S. João do Estoril, onde Caetano, afastado do governo em 1958, reunia os marcelistas indefetíveis enquanto fazia a sua travessia do deserto que só terminará com o AVC de Salazar. “Ouvir horas de discussão entre seniores do regime podia ter injetado em Marcelo o talento para para a intriga por detrás do pano. (…) O pai empenha-se em instruí-lo nos meandros do regime” (VM, 87-88). MRS descreve a experiência como “uma escola”, e é revelador que ache que “os comportamentos políticos não são muito diferentes em ditadura ou em democracia[,] as amizades, as inimizades, as traições, a atração do poder” (cit. VM, 91). Aos 20 anos, senta-se à mesa de todos os jantares oficiais do Governo Geral de Moçambique assumido pelo pai desde 1968. Quando Caetano sobe ao poder, janta uma vez por semana com ele. O adolescente a quem nunca faltou inteligência e intuição para o poder empenhou-se a fundo nessa “educação para ser político”, isto é, um futuro hierarca do regime; há quem se lembre no Liceu ouvi-lo dizer que um dia queria ser Presidente do Conselho (VM, 91). Muito jovem, assumirá os discursos e os temas de “exaltação nacionalista” do salazarismo dos anos 60: critica “a falta de amor pátrio daqueles que, direta ou indiretamente, (…) se divertiram neste Carnaval de 1962”, semanas depois da perda de Goa e em plena guerra em Angola. “Mais do que uma vilania foi uma afronta, uma verdadeira declaração de traição”. Em 1963, conclui uma redação escrevendo: “Pobres das nações que não têm filhos que lutem por elas e para elas!...” (cit. VM, 88-90) É surpreendente que, anos depois, não tenha feito a guerra em África. E teria tido tempo: acabou a licenciatura em 1971 e o Curso Complementar de Político-Económicas em 1972.
No liceu foi “nacionalista” (e o termo não lhe repugnava ainda há poucos anos atrás), mas muitos outros envolveram-se no movimento estudantil do secundário, transitando diretamente para a oposição aberta à ditadura nas universidades. Fazer opções destas aos 15 anos pode ser pouco representativo; na universidade, fazem-se com consciência, e Marcelo voltou a escolher a direita salazarista que queria fazer o “combate ideológico ao marxismo” (Freitas do Amaral, cit. VM, 120); na crise académica de 1969, “participa nas manifestações públicas de apoio à ditadura” (VM, 143). Nas eleições desse ano, momento de consciencialização política de tanta gente da sua geração, tem 21 anos e apoia, de novo, o partido único. (Até Cavaco, na sua autobiografia, dirá que terá votado na CEUD de Mário Soares – mas, claro, o voto é secreto...) “Ninguém se lembra de afirmações de Marcelo contra a guerra ultramarina”, garante VM. Com o pai ministro do Ultramar, não é de estranhar, admitamos. O que é completamente exótico é Leonor Beleza, sua colega e também filha de subsecretário de Estado da ditadura, achar hoje que “na época era cómodo estar de um lado ou do outro. Não pertencer a um grupo nem a outro e estar no meio era mais incómodo.” (cit. VM, 154) Da “comodidade” dos estudantes presos, torturados e mandados para a guerra por a ela se oporem, Beleza parece lembrar-se pouco... Em 1970, com Beleza e Braga de Macedo, Marcelo fura a greve académica na faculdade. E reúne-se com o novo ministro Veiga Simão para lhe dar “informações” sobre as “movimentações académicas” (VM, 164). É este, aliás, que lhe dá o seu primeiro emprego, no Ministério da Educação, em gabinete dirigido por Adelino da Palma Carlos, outro filho de subsecretário, que o tentara atrair repetidamente para o Opus Dei.
É verdade que manifesta publicamente o seu ceticismo relativamente à viabilidade da Reforma Educativa que Simão quer levar a cabo: “a verdadeira democratização do ensino (…) parece-me impossível no quadro de um regime autoritário e antidemocrático”, escreve ele em 1971 (cit. VM, 186), o que leva Caetano a exigir a Veiga Simão que o despeça. Mas não é despedido. Campeão da ambiguidade, o já jovem assistente de Direito não desiste de procurar o perdão de Caetano. Em 1973, já no Expresso, e já abortada pelo próprio ditador a Primavera marcelista, pede desculpa a Caetano pela “vivacidade” dos seus 24 anos e garante que “sempre estive na convicção” de que os “meus princípios não se opunham à pessoa de V.Exa”, cuja “presença na Chefia do Governo” volta a elogiar, prometendo-lhe “[inequivocamente] afastar-me do que possa ser entendido como atividade política ostensiva” (cit. VM, 226). A mãe, que do filho espera o cumprimento do destino de um herdeiro, intercede repetidamente por ele junto de Caetano (VM, 227-29). Em janeiro de 1974, dele escreve Artur Portela Filho: “Era o filho pródigo do Regime. (…) Estava talhado, calibrado, destinado” (cit. VM, 232).

o sono, os seus ritmos e o segredo da melatonina

como também é hábito marsuilta apresenta nas suas publicações temas diversos entre os quais vários ligados à ciência. hoje apresentamos uma entrevista a teresa paiva, a maior especialista da medicina do sono, em portugal e entre as maiores a nível internacional. o segredo da melatonina no sono, os ritmos, o tempo, a luz e a nossa saúde vão estar em destaque.


Teresa Paiva, neurologista e especialista em medicina do sono, participou no princípio deste mês no programa “Ponto de Partida” da Antena 1, apresentado por Eduarda Maio, que teve como tema “os poderes da melatonina”.

                                            teresa paiva

“A melatonina tem um ciclo inverso do ciclo da temperatura do corpo. Enquanto a temperatura desce durante a noite, até às quatro da manha, a melatonina começa a ser produzida a partir das oito horas da noite e sobe até às quatro da manhã”, disse Teresa Paiva.
A especialista explicou em pormenor estes mecanismos. “O nosso ritmo biológico mais estável é o ritmo da nossa temperatura corporal e essa temperatura tem um ritmo que é bifásico, o que quer dizer que no fim do dia começa a descer, tem um mínimo em redor das quatro da manhã e depois começa a subir, alcançando o máximo à hora do almoço. A seguir há um mínimo relativo que coincide com o nosso período de propensão para a sesta, começando a descer até à noite.
 
A melatonina é hipnogénica e circadiana mas não nos faz dormir. É como se fosse um sincronizador para todo o corpo de que são horas de dormir.
Se à uma da manhã mantivermos a luz acesa ou estivermos a trabalhar com um computador cheio de luz ou outro dispositivo electrónico , a melatonina é bloqueada e o nosso sistema  fica altamente  perturbado. Tal como um desportista que dá muitas quedas e lesiona o joelho, se fizermos muitas agressões deste género, há a tendência para deslizar o adormecer para horas cada vez mais tardias e o nosso sistema pode ficar danificado.”
 
Os ritmos circadianos são mais antigos que o sono
 
Os ciclos e ritmos circadianos foram outro assunto em debate. Teresa Paiva considera que “os ciclos circadianos colocam-nos em sincronia com o Planeta Terra, com a noite e o dia. É preciso não esquecer que somos animais diurnos, ao contrário, por exemplo, da coruja do mocho, do rato. Estamos feitos para sermos animais diurnos, a parte nuclear do nosso dia tem que ser diurno. É um sistema que foi aperfeiçoado ao longo de milhões de anos”
Em relação aos ritmos circadianos, a especialista referiu que estes “são mais antigos  do que o sono, pensa-se que apareceram há muitos milhões de anos  nas bactérias azuis,  as cianobactérias, que existiam nas pocinhas à superfície da terra. Estas bactérias perceberam que quando se multiplicavam durante o dia, a divisão corria mal e começaram a reproduzir-se de noite. Os ritmos circadianos, que hoje existem nas plantas, nos animais, nas bactérias  estão na origem da vida, existem desde o princípio da vida.”
Teresa Paiva falou ainda da evolução da ciência nesta matéria:  “até há pouco tempo descrevia-se apenas o relógio circadiano que existe no hipotálamo. Hoje sabe-se que estamos cheios de relógios internos, periféricos, no sangue, nos pulmões, no baço, relógios internos para nos sincronizar.”
A especialista considera essencial esta sincronização:  “Nós somos animais altamente sincronizados.  A regularidade, na alimentação, nas horas de deitar e levantar, é essencial ao nosso equilíbrio.
A extrema variabilidade de hábitos faz com se desregulem os relógios internos, biológicos e o organismo tem de fazer um grande esforço para se  adaptar.  Estas alterações também afectam o funcionamento hormonal.   No principio da noite produzimos hormonas anabolizantes, a hormona do crescimento, a prolactina, a testosterona, também hormonas que nos dão o equilíbrio auto-imune. No fim da noite, produzimos hormonas catabolizantes, o cortisol que nos dá energia.
Quanto há grande variações, quando não temos horários, as células devem ficar descontroladas, deve haver hesitações entre as nossas hormonas , vou eu ou vais tu, quem é que vai hoje…”
As consequências para a saúde podem ser muitos graves, segundo Teresa Paiva:  “O crescimento, essencial para a reparação dos tecidos, é afectado. A produção de leptina e grelina também fica desregulada, o que contribui para o aumento do apetite.  A testosterona diminui nos homens. Doenças ainda mais graves como o  cancro, o  Alzheimer, alterações cognitivas diversas também podem ocorrer”
 

domingo, 17 de janeiro de 2016

a mentira e a hipócrisia de marcelo na farsa da estabilidade bancária

um vídeo e uma fotografia que mostram como marcelo rebelo de sousa é falso e hipócrita na sua intervenção política. que ninguém tenha dúvidas que votar em marcelo é continuar cavaco com mais sorrisos e simpatia.




tão amigos...
vídeo com trecho da entrevista de marcelo rebelo sousa à tvi sobre a estabilidade da banca

sábado, 16 de janeiro de 2016

A década da Bolívia

A revolução na Bolívia celebra este mês o 10.º aniversário em ambiente de campanha para o referendo de 21 de Fevereiro sobre a proposta da emenda constitucional de reeleição por dois mandatos do presidente e vice-presidente. crónica de luís carapinha


Evo Morales chegou ao Palacio Qemado a 22 de Janeiro de 2006, tornando-se o primeiro Presidente de origem indígena da América do Sul. Uma vitória do Sim no referendo do próximo mês permitiria a Morales recandidatar-se em 2019 a um terceiro mandato, contado a partir da aprovação da Constituição de 2009. O referendo boliviano tem lugar num momento complexo para as forças progressistas e revolucionárias na América Latina. Contudo, importa reter que o país do Altiplano é palco de um dos processos de transformação mais marcantes dos últimos anos na região. No curto espaço de uma década impressionam, em particular, os avanços económicos e sociais alcançados, fruto de opções políticas e medidas acertadas que se situam nos antípodas do receituário do FMI e desígnios exploradores do grande capital – por exemplo, em vez de privatizações, foram nacionalizados sectores estratégicos da economia. O resgate dos instrumentos da soberania, a redução significativa da pobreza e das desigualdades, o saneamento das contas públicas, o incremento do investimento estatal e o aumento sustentado do PIB são alguns dos elementos mais salientes da folha de serviços do processo emancipador boliviano. Perante a evidência dos números, nem as agências do imperialismo se atrevem a negar os sucessos económicos alcançados pelo Executivo de La Paz. Embora a comunicação social dominante continue a optar, com raras excepções, pelo silenciamento da experiência boliviana. As acções para desestabilizar e derrubar a revolução boliviana vão prosseguir.
 
O actual processo na Bolívia possui raízes históricas e populares profundas, em que pontificam a revolução de 1952 e o governo progressista de Juan Torres no início dos anos 70 (que caiu às mãos da Operação Condor). O triunfo do Movimento ao Socialismo (MAS) nas presidenciais de 2005 foi o corolário de anos de intensas batalhas sociais. Bastará recordar as extraordinárias jornadas de mobilização popular de 2003, da «guerra do gás», em torno da reivindicação da exploração dos recursos naturais ao serviço do país e das populações, que enfrentaram a repressão feroz do governo neoliberal de Sánchez de Lozada, acabando por levar à sua demissão e fuga para os EUA, onde por sinal permanece. Em 2008 o imperialismo tentou executar um golpe de estado que passou, inclusive, por um cenário de divisão territorial do país. O embaixador dos EUA foi desmascarado e expulso da Bolívia. A conspiração da Meia-Lua, liderada pela grande burguesia de Santa Cruz, foi derrotada. A firmeza do governo, o apoio popular e o papel das forças armadas afiguraram-se determinantes. A derrota da reacção abriu portas à consolidação da implementação do «modelo económico social comunitário produtivo – cuja concepção não supõe a supressão imediata das relações capitalistas de produção, mas a transição gradual para uma economia socialista. Modelo assente numa economia mista em que o Estado chama a si o papel dirigente, cabendo um importante papel às pequenas e médias empresas e ao movimento cooperativo. A Agenda Patriótica 2025 traça como principais metas da etapa actual a erradicação da pobreza extrema, a universalização dos serviços básicos, a soberania alimentar e a industrialização.
 
A promoção do mercado interno e a redistribuição da riqueza produziram resultados palpáveis na última década boliviana. A reacção tenta recompor forças, apostando nos factores de divisão interna no campo do poder. A decisão de 2014 da principal central sindical, a COB, de «reencontro entre operários, camponeses e indígenas para defender e aprofundar (...) o processo de mudança» foi qualificada de «facto histórico». Um factor de confiança para as duras batalhas que se vislumbram e o devir da revolução boliviana.
luís carapinha- jornal avante 14 jan.2016

 
 



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Concerto pela Paz no Porto

Decorreu no passado Sábado, dia 9 de Janeiro, o magnífico Concerto pela Paz, que esgotou o Teatro Municipal Rivoli, no Porto. Organizado pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação, com o apoio da Câmara Municipal do Porto, nele participaram inúmeros artistas e associações culturais da zona do Porto, num total de mais de 200 pessoas que actuaram em palco.

Foram numerosas as crianças e jovens do Bando dos Gambozinos, dirigidos por Susana Ralha, e da Orquestra Juvenil da Bonjóia com o grupo de danças africanas, acompanhados ao piano por Ana Maria Pinto, até aos coros de professores (Grupo Vocal Canto Décimo e Coro Vox Populi) dirigidos por Guilhermino Monteiro, um dos responsáveis pela organização do Concerto, aos jovens do Balleteatro, as jovens Cantadeiras do NEFUP e o Coral de Letras da Universidade do Porto, acompanhado ao piano por Fausto Neves, e dirigido pelo seu maestro de sempre José Luis Borges Coelho. Mas o Concerto pela Paz contou também outras intervenções de grande qualidade, destacando-se a pianista Joana Resende e a cantora lírica Ana Maria Pinto, a jovem guitarrista Mafalda Lemos, os artistas João Lóio e Regina Castro e o cantor e pianista Jorge Palma, que culminou o Concerto com grande entusiasmo do público que manteve o Rivoli lotado durante três horas de espetáculo.




O Concerto foi apresentado pela actriz Rebeca Cunha e teve ainda um momento de poesia do escritor e poeta José Pedro Gomes e a intervenção de Ilda Figueiredo, que, em nome do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), de que é presidente da Direcção Nacional, saudou e agradeceu calorosamente aos artistas e associações presentes naquele magnífico Concerto pela Paz, salientando que a sua realização só foi possível com o empenhamento de todos os artistas e grupos que ali intervieram. Agradecimento também extensivo à Câmara Municipal do Porto, com quem o CPPC estabeleceu um protocolo de cooperação, ao seu Pelouro da Educação, ao Teatro Municipal Rivoli e aos seus técnicos que, em conjunto com o CPPC, montaram o espectáculo e a exposição, patente no átrio do Rivoli, dos belos trabalhos sobre a Paz elaborados por alunos de escolas do Porto.

O CPPC irá realizar outras iniciativas dando particular atenção às actividades de educação e do desenvolvimento de uma cultura de Paz, de que é exemplo este Concerto pela Paz, sem dúvida um marco muito importante nas actividades do CPPC, a que se seguirá um outro Concerto pela Paz, a realizar no próximo dia 18 de Março, no Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, em colaboração com a respectiva autarquia e colectividades.

intervenção de ilda figueiredo -presidente da direcção nacional do CPPC

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

ucrânia: um ano de desesperança e futuro sombrio

El año 2015 significó para el Estado de Ucrania y toda la institucionalidad del país un período de un extenso letargo de desesperanza y miseria. análise da situação na ucrânia por Vladislav Gulevich - prensa latina.

Basta remitirse al nivel de desempleo entre la juventud, la principal fuerza laboral de cualquier nación, superior al 20 por ciento, en tanto se disparó la cifra de trabajadores migrantes ilegales hasta un 41 por ciento. Unido a ello, ocurre un proceso de desindustrialización.
Es lamentable constatar que cientos de miles de ucranianos están prestos a buscar un sustento digno en cualquier país, ante la primera posibilidad.
Asimismo, más de dos millones de connacionales se convirtieron en refugiados o desplazados internos a causa del conflicto armado. La mayoría procede del Donbass (sureste de Ucrania), donde continúa la confrontación, pese a que las autoridades oficiales de Kiev achacan tal situación a "la agresión rusa", cuando el grueso de los ucranianos huye de las penurias económicas precisamente hacia Rusia.
De acuerdo con el Servicio Federal de Migración de Rusia, en territorio de la Federación se encuentran cerca de dos millones 500 mil ciudadanos de Ucrania, de los cuales un millón son originarios del Donbass -las regiones de Donetsk y Lugansk, "tradicionalmente pro rusas".
El resto, que representa un universo de un millón 500 mil personas, son refugiados de otras regiones de Ucrania, incluidos hombres jóvenes que huyen de las oleadas de alistamiento en el Ejército, en la mayoría de los casos hacia los territorios en conflicto.
La campaña propagandística del gobierno ucraniano apoyada en eslóganes patrióticos y el falso mito de que "el enemigo está a las puertas" y "Hora de levantarse en defensa de la Patria", es totalmente un fracaso.

El llamado al servicio militar sigue siendo una movilización forzosa. No existen prácticamente voluntarios deseosos de dar la vida y su salud por una inclusión violenta del Donbass dentro de Ucrania. Al mismo tiempo, en las repúblicas autoproclamadas independientes el alistamiento es voluntario.
Para inicios de 2016, el Ministerio de Defensa de Ucrania planea llevar a cabo la séptima oleada de movilización desde que estalló la operación a gran escala del ejército regular, en abril de 2014, para sofocar la resistencia en el sureste del país.
Como regla, son movilizados muchos de quienes fueron alistados al Donbass durante las tres primeras concentraciones, en la etapa de mayor beligerancia.
El Ejército nacional, empero, exhibe un bajo nivel de preparación militar y organización. De acuerdo con un informe del Ministerio de Defensa, las pérdidas fuera de combate dentro de las tropas ucranianas en las zonas de conflicto durante 2014 y 2015 ascendieron a 597.
De esa cifra, 171 soldados cometieron suicidios y 90 fueron víctimas de asesinatos premeditados (64 por colegas de filas); 39 por envenenamiento; 119 en accidentes de tránsito y 66 a causa de descuidos en el manejo de armas.
Engrosan las estadísticas, de otro lado, las bajas en combate. El ministerio castrense estima las pérdidas en dos años de guerra en dos mil 27 efectivos muertos, número que no se corresponde con la realidad sobre el teatro de operaciones.
Durante el verano y el otoño de 2014, el ejército ucraniano sufrió una serie de derrotas demoledoras. Hubo innumerables ocasiones en que los soldados cruzaron hacia territorio ruso en procura de protección, al huir de los golpes de los milicianos.
Informaciones transmitidas por la televisión local dieron cuenta sobre el destino de los oficiales que permitieron a la soldadesca huir a Rusia y fueron llevados a los tribunales por Kiev, tras su retorno al país.
ler artigo na íntegra aqui

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

maestro, compositor e ensaísta pierre boulez morre aos 90 anos

foi em baden-baden, na alemanha onde boulez morava, que morreu um gigante e nome incontornável da música clássica. quase um século de vida de uma personalidade que mudou a música erudita, mas também como ensaísta, na opinião de antónio pinho vargas, "Jalons e Leçons de Musique são livros extraordinários, dos melhores livros sobre música jamais escritos, e de uma notável qualidade literária".




deixamos aqui a notícia que saiu no DN - 6jan 2016 e também um vídeo com algumas passagens de Boulez como maestro, uma entrevista que deu também ao diário de notícias a 4 de maio de 2003, em lisboa e um vídeo com uma entrevista sua de 2012 em que aborda a composição.

Na primavera passada, o mundo da música engalanou-se para receber os 90 anos de Pierre Boulez (26 de março era a data). Com os 80, e já antes com os 75, passara-se algo de similar, mas a subida da fasquia etária criava uma sensação de urgência face ao inelutável, que as condições de saúde precárias - e a cegueira, que o afastara desde 2013 da vida musical ativa - reforçavam.
Anteontem aconteceu, enfim, o que se adivinhava. Quase 91 anos completos é quase um século e a vida de Pierre Boulez marcou o seu século (o XX) e o início do nosso. Com Boulez estamos diante da personalidade mais marcante e influente que a música da tradição erudita ocidental conheceu desde o final da II Guerra Mundial. Como compositor, como maestro, como pensador, Boulez moldou o tempo em que viveu. Ele surgiu como porta-bandeira das vanguardas musicais do pós-II Guerra Mundial, expondo a sua veia de polemista e enfant terrible da nova (então) criação musical. O inesperado é que Boulez se viria a tornar, paradoxalmente, um verdadeiro spiritus rector da nova música, transportando essa aura para a sua atividade de chefe de orquestra, que foi adquirindo preponderância com o tempo - embora não tenha nunca deixado de compôr (tinha uma prática muito peculiar do conceito de work in progress), como também não de pensar a música.
António Jorge Pacheco, diretor da Casa da Música, fala do "fim de uma época". Conheceu Boulez na Porto-2001 e lembra "a sua enorme abertura de espírito e curiosidade intelectual". A comprovar a primeira, recorda quando respondeu: "O último Verdi, mas agora já é tarde para mim" à pergunta do compositor que lhe faltava dirigir. E lamenta o grande "quase" que foi o Porto para Boulez: "ele aceitou ser Artista em Residência na Casa da Música em 2012", o que a deterioração da sua saúde viria a impedir; e o que poderia ter sido um verdadeiro happening: "ele disse que queria dirigir o Remix Ensemble e fazer com eles a estreia mundial da versão final de Répons [obra maior de Boulez] na Casa da Música"!
"Répons e Rituel in memoriam Bruno Maderna são obras-primas absolutas, inquestionáveis", responde o compositor António Pinho Vargas, questionado sobre as obras de Boulez que mais admira. Mas a sua admiração estende-se aos outros domínios de atividade do francês (António haveria de dizer: "tiro o chapéu às suas três facetas"...): "Jalons e Leçons de Musique são livros extraordinários, dos melhores livros sobre música jamais escritos, e de uma notável qualidade literária" que fazem de Boulez "um pensador de um patamar extraordinário". E do maestro refere "a excelência reconhecida" que pôde verificar nos "vários concertos dirigidos por ele a que assisti ao longo da minha vida".
Mais crítico é Pinho Vargas em relação ao "homem que em determinado momento pareceu ter excesso de poder" e que "teve um estatuto e autoridade tais que a sua mundivisão individual se tornou numa partilhada por toda a gente na música contemporânea", e isto a uma escala "quase universal".
Várias facetas no homem, também, portanto, que, juntas fazem Boulez "pairar como um gigante na segunda metade do século XX", alguém que "marcou o seu tempo como nenhuma outra personalidade pode reclamar para si".
Critica "a velocidade com que desaparecem das salas de concerto por todo o mundo as obras de Berio, Ligeti, Stockhausen, Xenakis, Nono", esperando que as de Boulez não sofram o mesmo destino.
"Conhecemo-nos em 1991, quando eu cheguei ao IRCAM [Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique, criado em Paris, em 1977]", recorda Risto Nieminen, diretor do Serviço de Música da Gulbenkian [que dirigiu o IRCAM]. Surpreendeu-o no primeiro almoço: "só falou de gastronomia e de coisas normalíssimas. Nada de música"; dentro do IRCAM: "tratava todos por igual, fossem simples funcionários, fossem cientistas, sempre caloroso e sociável"; no trabalho: "a mente dele estava sempre ativa e, se era perfeccionista nos ensaios, era também muito paciente e compreensivo". Fala de um compositor "para quem não havia uma obra definitiva, fixada. A obra, para ele, tinha vida e podia sempre expandir-se, como algo orgânico; era um processo, não um ato".
A última vez que se viram "foi em novembro de 2012, em Paris, num concerto. Estava já muito alquebrado e parecia ausente, quase em torpor, mas bastava um 'impulso' para mostrar a lucidez de sempre!"
Felizes nós, que fruímos tão longamente da sua intensa luz. Requiescat in pace.
Pierre Boulez esteve em Portugal, a instâncias da Fundação Gulbenkian, nos anos de 1985, 1990, 1999 e 2003 (assistimos às três últimas datas) e, no Porto, em 2001, sempre na companhia do seu Ensemble InterContemporain [ensemble residente do IRCAM]. Mas em 2003, visitara meses antes (a 1 de maio) a Igreja dos Jerónimos, onde dirigiu o Concerto da Europa da Orquestra Filarmónica de Berlim, tendo por solista Maria João Pires. Foi aí que nos encontrámos, minutos antes do concerto (a que também assistimos). Boulez esteve sempre muito descontraído, cordial e disponível, adotando um tom conciliatório face à sua "fase incendiária" juvenil; e o costumeiro tom perentório e objetivo face a tudo o resto.
 
vídeo com boulez em actuação como maestro
 
 
 
 
 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

à descoberta do historiador Eric Hobsbawm

o grande historiador e pensador do século XX, eric hobsbowm, morreu há quatro anos, mas o seu pensamento é vivo e por isso urgente e necessário conhecer. aqui deixamos um testemunho de luís carapinha, escrito logo após a sua morte, e também outros através de vídeos que abordam a sua obra na perspectiva de outros historiadores e dele próprio em entrevistas realizadas.

como ele próprio afirmava faz todo o sentido o questionar do futuro porque aquilo que se faz no passado tem continuidade nesse futuro onde queremos chegar a soluções que façam com que o ser humano viva melhor. já no início deste século XXI hobsbowm alertava para o perigo do aumento das desigualdades sociais porque criam tensões e enorme instabilidade que levam a rápidas explosões e quedas dramáticas.estas transformações rápidas e imprevisíveis serão certamente aproveitadas politicamente por governos reaccionários - racismo, xenofobismo, fundamentalismo económico e religioso, como aliás temos vindo a verificar nos tempos de hoje.
 
vivas estão pois as suas palavras, principalmente as do final da sua autobiografia, quando hobsbowm escreve que o "mundo não vai melhorar se não tentarmos lutar por um mundo melhor, não podemos desistir". por isso também o trouxemos até aqui.
 
 
 
Eric Hobsbawm: marxismo e história. 02.10.2012, 15h37, Vermelho. Luís Carapinha
 
O historiador marxista Eric Hobsbawm, que se despediu da vida na madrugada da segunda-feira (1º) disse, certa vez, sentir-se em casa na América Latina. “É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem – a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo”, disse. Podia ter acrescentado, no mesmo sentido: é o lugar da revolução do século 21.
A frase tem sentido. Sua história pessoal se confunde com a do século 20, o pequeno século 20 como ele o caracterizou, compreendendo-o entre os limites temporais da Revolução Russa, de 1917, ao fim da União Soviética, em 1991. Ele foi testemunha pessoal, quando rapaz, da ascensão do nazismo na Alemanha, experiência determinante para sua adesão ao marxismo e ao comunismo, e fundamento de sua convicção da necessidade da revolução. Assistiu ao desastre da 2ª Grande Guerra e, historiador consequente, encarou a vitória soviética sobre as forças de Hitler como o acontecimento basilar para explicar a história do século 20 e também para valorizar a experiência soviética de construção do socialismo, apesar dos erros que houveram.
Foi o maior historiador de nosso tempo, solidamente baseado num método do qual nunca se afastou. Não aderiu a modismos e, quando o fracasso da construção do socialismo no Leste Europeu levou tantos intelectuais para o outro lado das barricadas, abandonando o pensamento avançado, Hobsbawm surpreendeu a todos, mantendo-se fiel ao pensamento herdado de Marx e Engels e, mais do que isso, atribuindo a ele, corretamente, a condição de único método capaz de permitir a compreensão profunda e correta daqueles acontecimentos.
O marxismo foi, para ele, ferramenta conceitual não apenas para o exame das condições da revolução mas também para compreender a própria evolução, suas contradições, avanços e recuos. E também instrumento teórico essencial para compreender a natureza e as transformações do próprio pensamento marxista. A tarefa do historiador, disse certa vez, não é meramente descrever os acontecimentos, mas explicar como e porque o mundo muda, e não há outro instrumento capaz de cumprir esta tarefa senão o pensamento marxista.
Os livros que deixou – entre eles uma monumental História do Marxismo, que coordenou – tiveram o objetivo de concretizar esta explicação e apoiar a ação transformadora. São imprescindíveis justamente por cumprirem a exigência básica da concepção materialista da história: olhar a vida em sua integridade, incorporar à análise a multiplicidade dos aspectos em que ela se expressa: econômicos, políticos, sociais, culturais, ideológicos, etc.
Esta é a base dos elogios que fez à América Latina, ao Brasil pós-Lula, ao próprio Lula, a experiência cubana e a seu líder, Fidel Castro. Esse elogio decorre da compreensão de que a revolução assume formas sempre renovadas, e não se detém, apesar da aparência conjuntural de recuo.
É também o fundamento de sua convicção da atualidade e vitalidade do marxismo enquanto pensamento avançado e transformador, e da necessidade da superação do capitalismo por outra forma, mais avançada, de organização da sociedade. Ele foi, à sua maneira, um militante dessa transformação e colocou todo seu esforço intelectual (expresso em dezenas de livros) a serviço dela. “Não existe esperança reduzida hoje. O que digo agora é que os problemas do século 21 exigem soluções com as quais nem o mercado puro nem a democracia liberal pura conseguem lidar adequadamente. É preciso calcular uma combinação diferente. Que nome será dado a isso não sei. Mas é bem capaz de não ser mais capitalismo, não no sentido em que o conhecemos aqui e nos EUA”, disse, há dois anos, em uma entrevista ao britânico The Guardian.
Foi um historiador e um homem de seu tempo. Seus escritos serão cada vez necessários para quem quiser compreender as mudanças vividas pelo mundo desde a revolução francesa de 1789 até as contradições e conflitos do século 20 e o limiar da nova luta pelo socialismo, no início do século 21. Foi um gigante do pensamento voltado para a ação transformadora.
 
 
serão aqui disponibilizados alguns dos livros de eric hobsbowm em pdf como também outros vídeos (zona de vídeos neste blog)
livro em PDF era dos impérios
livros era dos extremos e era das revoluções

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

eduardo lourenço vence prémio vasco graça moura

Eduardo Lourenço ensaísta e filósofo de 92 anos foi o primeiro vencedor do prémio Vasco Graça Moura-Cidadania Cultural. este prémio  é uma iniciativa da Estoril-Sol em parceria com a editora Babel - que deverá ser anual - constitui uma homenagem ao poeta que morreu em 2014.



                                          ORLANDO ALMEIDA/GLOBALIMAGENS
 
Acabara de ser anunciado ao público que vencera a primeira edição do Prémio Vasco Graça Moura-Cidadania Cultural. Era hora de almoço. Eduardo Lourenço, quase alheado, de certo modo denunciando a sua vasta experiência, lança ao telefone: "Cheguei agora mesmo ao restaurante, ainda por cima estava fechado." O filósofo e ensaísta de 92 anos tornou-se o primeiro galardoado com o prémio instituído em memória do homem que ontem teria feito 74 anos.
Os louvores podem não ser uma novidade para Lourenço, já distinguido com o Prémio Camões (1995) e Pessoa (2008) - para nomear dois por entre um rol infindável. Mas este, com o valor de 40 mil euros, uma iniciativa da Estoril-Sol em parceria com a editora Babel - que deverá ser anual - constitui uma homenagem ao poeta que morreu em 2014. E isso é "uma grande honra".
"Realmente começo a estar habituado. Mas seria uma grande arrogância da minha parte não ficar honrado com este prémio. Para qualquer pessoa que recebesse um prémio com o nome do poeta e homem de ação que foi o Vasco Graça Moura, [este] seria para ele uma grande honra, um grande prazer e uma grande alegria. É o meu caso."
Tanto mais porque o conhecia e admirava. "Fui amigo dele, devo--lhe imenso. Admiro-o por ele ser o grande poeta que é, ficcionista, homem de ação - coisa rara - e também um grande tradutor, cosmopolita, um homem do Renascimento, um espírito muito corajoso, um verdadeiro mosqueteiro das Letras portuguesas."