RECORDAR PARA MELHOR COMPREENDER

RECORDAR PARA MELHOR COMPREENDER

Bob Dylan: compositor, tocador, cantor e escritor

E por tudo isto é também o primeiro nobel da literatura a receber semelhante distinção no mundo da música. Robert Allen Zimmerman, é o seu nome de nascença, mas desde cedo quis ser Bob Dylan em homenagem ao poeta Dylan Thomas, de quem devorava todos os poemas que dele apareciam. De Minnesota deu o salto para Nova Yorque onde conheceu o cantor-activista Woody Guthrie. Cantou-o até mais não e aos poucos entrou no estilo dos blues e do folk. Como ele próprio afirmou "quem quer compor canções deveria escutar tanta música folk, estudar a sua forma e estrutura e todo o material que existe desde há 100 anos". A Academia Sueca concedeu a distinção ao músico “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”. E bem pode dizer-se que está certa a academia pois é o mesmo Bob Dylan que se gosta de ver pertencente a uma irmandade de escritores cujas suas raízes estão no country puro, no blues e na estirpe folk de Guthrie, da família Carter, Robert Johnson y dezenas de "baladistas" escoceses e ingleses.

Marsuilta associa-se à distinção da academia sueca e traz à memória letras de várias canções de Bob Dylan, bem como uma entrevista que concedeu em 2004 e ainda outros link´s onde se pode conhecer o mundo de Dylan. Enquanto dele se escreve, ele continua a dar concertos e a escrever diariamente, um hábito que guarda desde há muito tempo.

http://elpais.com/diario/2004/05/01/babelia/1083366381_850215.html?rel=mas

http://bigslam.pt/noticias/homenagem-do-bigslam-ao-vencedor-do-premio-nobel-de-literatura-de-2016-bob-dylan/

http://cultura.elpais.com/cultura/2016/10/13/actualidad/1476381455_398709.html

http://observador.pt/especiais/bob-dylan-esta-do-lado-certo-da-historia/

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ACONTECE, ACONTECEU OU VAI ACONTECER



Ciclo de cinema no CCB - Lisboa

Próximos filmes: 18 março O LEOPARDO Luchino Visconti (1963)
14 abril OS DEZ MANDAMENTOS Cecil B. DeMille (1956)
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Carlos Paredes - Evocação e Festa da Amizade

Esta evocação realiza-se no dia 19 de Fevereiro, pelas 15 horas, na Salão d' A Voz do Operário, em Lisboa e é organizado pela Associação Conquistas da Revolução.

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Tertúlias em Ciência

Céu e Mar "Making of", acontece no dia 15 de fevereiro, pelas 17 horas (C4.piso3).

Esta sessão promovida pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tem a responsabilidade organizativa de Pedro Ré.

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Vanguardas e neovanguardas na arte portuguesa - Séculos XX e XXI. esta é a nova exposição que está patente de terça a domingo no museu nacional de arte contemporânea, em lisboa.

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XXI Exposição de Pintura e Escultura

Esta exposição que mostra obras de vários artistas de arte contemporânea portugueses vai decorrer no Clubhouse do Golfe, nos dias 11, 12 e 18 e 19 de Fevereiro, aos sábados e domingos, das 12h00 às 20h00. A organização está a cabo do Belas Clube de Campo, do Banco Populare a daPrivate Gallery .

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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

"As coisas evoluem investigando, não é acumulando conhecimentos"

antónio coimbra de matos, psiquiatra e psicanalista de 86 anos, especialista no estudo da depressão, defende que na teoria psicanalítica, ele, contrariamente ao que acontecia no passado, dá mais importância ao futuro que ao passado. nos tempos de hoje admite também que estamos a atravessar uma crise colectiva. marsuilta deixa aqui a entrevista que concedeu ao jornal público recentemente.


Entra-se no consultório e dá-se de caras com uma curva do Douro. A vista assombrosa de São Leonardo de Galafura transporta-nos para uma espécie de tempo mítico. Pendurada na parede em frente à porta, aquela fotografia é uma janela para as origens de Coimbra de Matos. Ao longo de duas horas de conversa, o psiquiatra e psicanalista, nascido em 1929, evoca por diversas vezes episódios da infância para ilustrar o que diz. Embora se tenha afastado da importância que a teoria psicanalítica clássica dá ao passado. António Coimbra de Matos é um ávido consumidor da ideia de futuro. A papelada que se amontoa na secretária a que nos sentamos, um de cada lado, revela o tipo de organização muito pessoal de quem privilegia a actividade à arrumação obsessiva. Fuma incessantemente e concede-se a si próprio o tempo necessário para responder a cada pergunta. Como se fosse a primeira vez que algumas das questões se lhe colocassem.

                                          antónio coimbra de matos

Pode-se falar em estados de depressão colectiva?
Pode. A depressão é uma coisa individual mas há situações em que aparecem mais casos depressivos. Em momentos de crise. Como agora.
Diria que estamos a passar por uma depressão colectiva?
Há uma maior incidência de depressões. Em certos momentos podemos falar de uma depressão colectiva. Isso foi muito evidente naquele caso muito falado da France Telecom.
Em que houve uma série de suicídios de trabalhadores da empresa.
Sim. Isso foi muito noticiado.
Há pouco tempo foram divulgados números que revelam um aumento dos casos de suicídio em Portugal.
Sim. Há um trabalho célebre, um trabalho seminal, em que o pai da Sociologia, o Durkheim, verificou que quando há guerras e revoluções a depressão e os suicídios diminuem porque as pessoas se revoltam. Quando as pessoas não se revoltam, é que se suicidam; quando se sujeitam, quando não têm condições para protestar com mais veemência.
Na sua definição, segundo li, o que distingue a depressão normal da depressão patológica é justamente a capacidade de revolta.
Sim.
Em Portugal, não somos lá muito bons nisso, na capacidade de revolta colectiva, pois não?
Não, somos um bocado passivos. Os espanhóis são muito mais agressivos, revoltam-se muito mais.
Sim, nas imagens das manifestações em Espanha ou na Grécia vemos um grau de revolta que não identificamos em Portugal.
Isso é verdade. Noto isso na área científica. Aqui em Portugal, vamos a um congresso e se dizemos: “Não estou nada de acordo com isso” dizem-nos logo: “Foste muito agressivo com aquele tipo”. Isso, num congresso internacional, é a coisa mais banal do mundo e ninguém leva a mal, nem diz que está a ser agredido.
Somos mais susceptíveis?
Sim. E mais delicados, mais medrosos. Somos um país de medrosos.
É a velha ideia dos brandos costumes?
Dos brandos costumes mas também da atitude do poder. O poder em Portugal sempre foi menos violento. Isso não facilita a revolta. O Salazar não matava, mandava prender. Franco matava mesmo e isso cria uma revolta maior.
E considera isso mais negativo do que positivo?
Sim, há uma sujeição maior. Umas vezes é mais negativo, outras vezes mais positivo. A nossa colonização foi muito melhor do que a colonização de outros países, nomeadamente de Espanha.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

a problemática do sono de vários ângulos

marsuilta tem destacado por diversas vezes as questões ligadas ao sono e os problemas que as pessoas podem ter com a privação do sono. aliás o sono é e tem sido sempre motivo de análise tanto na literatura, especializada ou não, como em outras artes. deixamos aqui dois exemplos disso mesmo, uma com uma pintura de vermeer, holandês reconhecido pintor do séc XVII, e outra que liga o sono e a velhice.


 
Mulher Adormecida, do pintor holandês Johannes Vermeer (1632-1675) é uma obra de 1657 que retrata o sono de uma empregada doméstica, certamente após ter servido uma bebida (dois copos e dois jarros encontram-se na mesa). Uma análise minuciosa da obra, através de raio x, detectou que Vermeer tinha pintado de origem um homem e um cão ao fundo, motivos que depois retirou. Para além do seu traço magistral, o pintor é conhecido por retratar cenas de interiores domésticas da classe média holandesa (tal como, aliás, surge neste quadro), na sua maioria tendo como palco a sua casa de Delft, cidade do sul da Holanda, próxima de Haia e Roterdão.


 
Os idosos têm problemas acrescidos de sono. O primeiro diz respeito à convicção de que se deve dormir. Os idosos precisam de dormir menos horas, cinco, seis, sete horas e se continuam a tentar dormir oito horas têm uma expectativa frustrada. Depois, os idosos têm maior prevalência de sintomas disruptivos para o sono: as dores articulares, o urinar de noite, etc. Por outro lado, tomam geralmente mais remédios, para a hipertensão, o colesterol, etc, e alguns podem induzir insónia. Os idosos têm ainda maior prevalência de doenças do sono, designadamente síndrome das pernas inquietas, apneias, etc. e por isso maior probabilidade de dormir mal. Os idosos também podem ter medo de morrer a dormir, o que ocasiona insónia.

os textos são retirados da newsletter isleep

domingo, 21 de fevereiro de 2016

presidenciais nos EUA: sanders "assusta" hillary clinton

depois de bernie sanders ganhar de forma esmagadora a clinton nas primárias de new hampshire, a política e a própria campanha nos eua ganhou novos temas de discussão. como realça heiko khoo, no seu artigo que marsuilta deixa de seguida, sanders veio trazer à campanha temas como os direitos dos trabalhadores, a luta pelas liberdades civis, a liberação sexual, os direitos de bem-estar, a oposição à guerras imperialistas e acima de tudo o ataque feroz a wall street. a ameaça de sanders como possível eleito candidato dos democratas contra todas as expectativas é uma séria ameaça que neste sábado levou um revés e um atenuar do seu impulso com o triunfo de hillary clinton em nevada caucuses. aqui clinton venceu com mais de 52 por cento dos votos, enquanto sanders alcançou um pouco mais de 47 por cento. clinton teve que mudar um pouco o seu discurso imitando um pouco sanders na utilização dos pronomes "nós" e "vós". logo após o seu discurso de vitória clinton disse que a "luta continua" numa alusão ao seu próximo combate, em houston, onde faria um comício.



ler artigo de Heiko Khoo,a 12.02.2016 2016, http://www.china.org.cn/opinion/2016-02/12/content_37774623.htm

Bernie Sanders' crushing victory over Hillary Clinton in the New Hampshire primary turns U.S. politics upside down. Sanders, a rank outsider at the start of the leadership campaign, is fomenting a “political revolution.” He wants to change the country's political culture, economy and institutions, and make them serve the people. Perhaps, Sanders will be elected as presidential candidate for the Democrats against all expectations. This is a real possibility because of the militancy and determination of his mass support base.

Sanders only joined the Democratic Party in 2015, after serving as an independent in Congress since 1990 and in the Senate since 2006. He champions “socialist” causes: workers' rights, the struggle for civil liberties, sexual liberation, welfare rights, opposition to imperialist wars; and above all he ferociously attacks Wall Street and the “billionaire class”–whom he tells – "you cannot have it all." Millions of supporters have given small donations – people who believe he defends the interests of the majority – the middle and working class.

Sanders is a fighter. His words boom as his fists punch the air. His arms express the people's anger at the betrayal of American hopes and dreams. He castigates the fraud of Wall Street, demanding that the most powerful banks be broken-up, and that the corrupt campaign financing system be ended. He champions the plight of the homeless, people evicted after wage cuts and job losses threw millions of Americans into poverty. He supports universal healthcare, and explains that the USA spends more on health per capita than any other advanced economy– yet millions have no health insurance. He advocates free college education and a program of public works and infrastructure investment to create 13 million new jobs.

The machinery of the Democratic Party is behind frontrunner Hillary Clinton. But Sanders has tapped into a deep grain of unarticulated social opinion, which reflects the simple fact that U.S. society is a class society – organized to exploit the workers. The USA, with its commonly held ideology – that individual freedom is best protected by a culture of universal entrepreneurship – is a society at war with itself. The Great Recession in 2008-9 not only wreaked havoc on the lives of millions of people; it also cleared the dust from the eyes of tens of millions who lost faith in U.S. capitalism.

However, Sanders’ vision of socialism is a social-democratic one. He seeks reform towards a Nordic model of social welfare. Nevertheless, to bring this into being would entail a huge battle to counter and defeat the opposition of business and other interests that feel threatened.

Sanders often addresses his remarks to the middle class by which he means workers on reasonable incomes. Indeed, the majority of Americans are proud that they work hard and strive to advance in society. They tend to identify themselves as middle class but in recent years millions have been impoverished.

It might appear strange that Sanders is said to be trailing Clinton within black communities. After all they tend to be poor, discriminated against, and militant in defence of their rights, and Sanders champions their causes. But he predicts that as the campaign heats up everyone will begin to follow the debates more closely; and the majority will naturally side with his crusade against corruption and his message of socialist change.

There is still a long way to go in the campaign but the New Hampshire victory provides powerful momentum to Bernie Sanders' campaign. He has changed the entire focus and character of the debate in U.S. politics. Socialism is back big time.
 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

a investida contra a china

marsuilta apresenta um artigo extremamente importante nos tempos que correm ao explicar a ofensiva que principalmente os EUA e todo o sistema imperialista tem centrado na china, disfarçando deste modo as suas próprias insuficiências e as suas responsabilidades na crise económica mundial do sistema, e culpabilizando a china desta mesma crise. por outro lado, os leitores de marsuilta podem também ver e ouvir um vídeo do autor do artigo que de forma aprofundada explica a transição socialista por que passa já alguns anos a china.

 
vídeo - intervenção sob o tema a China e a Transição para o Socialismo, IIº Congresso Internacional Marx em Maio, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a 10 maio 2014 -ver vídeo da intervenção de luís carapinha
 
Soros contra China


George Soros investiu contra a China no Fórum Económico Mundial de Davos, reunido em Janeiro na estância suíça. Pegando num tema já viral na agenda mediática corporativa global, o agiota bilionário declarou que o cenário de «aterragem violenta é praticamente inevitável» [para a economia chinesa]. Reputado mega-especulador sem fronteiras, venerado pelo mainstream como investidor de sucesso e filantropo – ainda em Dezembro endossou mais um donativo de seis milhões de dólares à campanha presidencial de Hillary Clinton –, Soros encontrou no sobre-endividamento da China a razão profunda da onda deflacionária que ameaça a economia mundial. Depois foi a vez de Christine Lagarde pegar na estafeta da campanha anti-China. Para a directora-geral do FMI, cuja pretensão a um novo mandato, na obscuridade dos bastidores da alta finança mundial, é assombrada pelas inquirições da Justiça francesa e o fantasma do destino pouco abonatório do seu predecessor, Strauss-Kahn, a China ainda poderá evitar uma aterragem violenta se reformar as empresas estatais e intensificar as reformas de mercado. Lagarde e o grande capital querem que Pequim privatize os sectores estratégicos da economia e entregue o yuan à livre flutuação, libertando os instrumentos da política cambial e monetária da alçada do governo e banco centrais chineses. De caminho, difunde-se a falácia de que a desaceleração chinesa (cuja economia cresce a mais do dobro da taxa dos EUA) é a raiz da nova espiral da crise económica global. À medida que continua a subir a turbulência nos mercados financeiros e o edifício monstruoso de activos tóxicos reerguido depois de 2008 ameaça desabar, até a FED dos EUA, sacudindo a água do capote, aproveita para justificar os dilemas da política monetária e decisões sobre as taxas de juro de referência com os ventos nefastos que sopram da China...

Em Pequim a intervenção de Soros não passou despercebida. Sem mencionar o nome do fundador da Open Society, o primeiro-ministro da China, Le Keqiang, qualificou de «absurdas» as alegações contra a economia chinesa. Mais incisivo, um artigo de opinião de Mei Xinyu, investigador ligado ao Ministério do Comércio da China, publicado no Diário do Povo, acusou Soros de declarar «guerra à China», aludindo à «pressão especulativa» dirigida contra as moedas asiáticas, principalmente o yuan (People's Daily Online, 27.01.2016).

A proeminência e preeminência de personagens do calibre de Soros na cúspide do sistema dominante são reveladoras do tempo volátil que vivemos e da própria estrutura e dinâmica do capitalismo e da sua crise. Certamente, os usurários da grande finança não enjeitarão qualquer oportunidade para pescar em águas turvas e continuar a amassar novas fortunas com a especulação cambial e bolsista. Mas a investida contra a China da Wall Street e as pressões desestabilizadoras para socavar a credibilidade da sua economia e do yuan são essencialmente elementos da estratégia que identifica na China um adversário vital.

As contradições da transição económica chinesa, rumo a uma economia ancorada no vasto mercado interno, com menos peso das exportações, são assumidas pela direcção chinesa. O grande capital transnacional, acossado pela contracção das taxas de lucro e a dívida insanável dos EUA, tudo arriscará para tirar partido da maior exposição chinesa aos factores perniciosos da integração na economia mundial ainda sob hegemonia do imperialismo. Convém estar atento, mas também não confundir a nuvem com Juno. É a propriedade pública que mantém o alto comando da economia chinesa, inclusive, conduzindo o sector e investimento privados. O yuan já é a 3.ª moeda de reserva internacional e a China o maior credor mundial, desempenhando um papel central na profunda rearrumação de forças que reflecte a trajectória de decadência da Tríade imperialista no mundo.

O pivot para a Ásia do Pentágono e a política de pressão e cerco à China são no fundo um perigoso sinal de desespero e medo.
 
artigo escrito por luís carapinha no jornal avante a 11 de fevereiro 2016
 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O bom desporto

Se a nossa imprensa desportiva nunca se interessou verdadeiramente pelo Desporto, os “desportistas portugueses”, que leem, veem e ouvem desporto ainda menos. É um ciclo vicioso difícil de quebrar na medida em que mexe com aquilo que cada uma das partes pede – mais jornais vendidos e mais futebol fora das quatro linhas. Mas certo é que continuamos a falar de programas desportivos, imprensa desportiva. Todavia, de Desporto enquanto área abrangente nas suas finalidades (educativas, políticas, psicossociais, rendimento, formação, etc.) fala-se e escreve-se muito pouco.


Do que se fala, na minha opinião, é do mau Desporto. Daquele Desporto em que, uma vitória nunca é justa, uma derrota que é sempre culpa de alguém, a tensão é sempre combustível explosivo para comportamentos tempestuosos, a manipulação arma da vitória, o confronto verbal fogo de dispersão, as apostas desportivas a essência do jogo, os conflitos entre agentes desportivos o provincianismo competitivo, a violência a materialização de tudo o resto. Tudo isto preenche a lista de ingredientes de uma ideia economicista e competitiva onde ganhar menos vezes é caminho para ser último (embora ganhar sempre ainda esteja para acontecer).

E se ainda quisermos falar em mais Desporto podemos transportar muito do que acima referi para o Desporto Juvenil. Neste contexto as más decisões dos árbitros são culpa do presidente da associação, as dificuldades técnicas do jogador que cai é culpa daquele que está em pé e onde outro ciclo vicioso ganha raízes – Queremos agir, como os adultos, no desporto para crianças e falamos desse desporto como algo educativo. Neste ambiente caminhamos para criar condições sustentáveis para destruir o que poderá restar de bom Desporto.

Recentemente um pequeno e significativo gesto escrito trouxe-me à flor da mente a ideia de que há que fazer perdurar o Bom Desporto. E nesse sentido, há que fazer o possível para não cairmos na tentação de colocarmos o pior dos nossos comportamentos ao serviço de justificar a sofreguidão por ganhar. Como se ganhar ou perder fossem justificações plausíveis para deixarmos de preparar bem as sessões de treino com jovens, investirmos em darmos melhores correções para os nossos jogadores, prepararmos um jogo como se preparássemos um teste de avaliação na escola (criar condições para podermos avaliar os progressos de que quem quer crescer no bom desporto), criarmos uma química de grupo que entusiasme os nossos jogadores, valorizarmos as ações bem executadas ou as decisões que há procurávamos que acontecessem no jogo. E se no final pudermos cumprimentar o treinador adversário agradecendo-lhe o que fez para aquela competição permitir uma boa evolução ou uma excelente oportunidade de podermos vir a ser melhores, então estamos a falar de um Desporto Melhor.

A pressão no Bom Desporto não se assemelha à pressão do Desporto de Rendimento, nem do Mau Desporto. Mas a natureza humana parece não a estar a ser capaz de desencadear uma consciência coletiva que consiga blindar o Bom Desporto. Perante esse contágio o Bom Desporto pode vir a dissipar-se silenciosamente, tal como se dissipam agentes de enorme valor humano e que deram fortes contributos para preservar uma visão sã da atividade desportiva. Na mente de muitos o Bom Desporto será sempre o dos truques, dos berros sem conteúdo, do rendimento esmagando a aprendizagem, da dedicação apenas aos “melhores”, duma visão muito centrada no hoje.
 
artigo escrito por joão ribeiro, professor de educação física e treinador de basquetebol - fev 2016
 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

simplex jurídico - uma piada que faz rir





Um professor da Faculdade de Direito de Lisboa perguntou a um dos seus alunos: 

   - Laurentino, se você quiser dar uma laranja a uma pessoa chamada Sebastião, o que deverá dizer?  

 O estudante:

  - Aqui está, Sebastião, uma laranja para si. 

  O professor, furioso:

   - Não! Não!

  - Pense como um Profissional de Direito!

  O estudante pensou um pouco e respondeu: 

 «Eu, Laurentino Marcos Rosa Sentado, Advogado, por meio desta dou e concedo a você, Sebastião Lingrinhas, BI 6543254, NIF 50829092, morador na Rua do Alecrim, 32, A, do concelho de Vila Nova de Gaia, casado, com dois filhos e um enteado, e somente a você, a propriedade plena e exclusiva, inclusive benefícios futuros, direitos, reivindicações e outros títulos, obrigações e vantagens no que concerne à fruta denominada laranja, juntamente com sua casca, sumo, polpa e sementes, transferindo-lhe todos os direitos e vantagens necessários para espremer, morder, cortar, congelar, triturar ou descascar com a utilização de quaisquer objectos ou de outra forma comer, tomar ou ingerir a referida laranja, ou cedê-la com ou sem casca, sumo, polpa ou sementes; e qualquer decisão contrária, passada ou futura, em qualquer petição, ou petições, ou em instrumentos de qualquer outra natureza ou tipo, fiscal ou comercial, fica assim sem nenhum efeito no mundo citrino e jurídico, valendo este acto entre as partes, seus herdeiros e sucessores, com carácter irrevogável, declarando Sebastião Lingrinhas que o aceita em todos os seus termos e condições,  conhecendo perfeitamente o sabor da laranja, não se aplicando, neste caso, o disposto no Código do Consumidor, cláusula 28, alínea b, com a modificação dada pelo DL 342/08 de 1979.»

 O professor:

 - Está melhor. 

  MAS  NÃO  SEJA  TÃO  SUCINTO!

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Reconhecer a Área Disciplinar de Educação Física como parte da Formação Geral de uma criança e jovem

recebemos este manifesto enviado à assembleia da república por um professor há muitos anos na escola de forma empenhada e sempre reflexiva. num momento em que se perspectivam mudanças na educação há que lembrar a quem decide que a educação é uma só, não havendo disciplinas maiores e mais importantes que outras, por isso marsuilta associa-se a este manifesto por uma educação física essencial na formação de todas as crianças e jovens deste país. e como nos diz joão ribeiro "precisamos de uma disciplina de Educação Física com mais tempo curricular de uma lógica curricular com mais tempo para se aprender e o tempo suficiente para se ensinar".

Exmos Senhores integrantes da Comissão de Educação e Ciência da Assembleia da República.
 
Por este meio exerço o meu dever cívico de expressar opinião, de forma educada, civilizada, mas sem deixar de referir a minha preocupação.
Perante dados tão objetivos quantos os expressos nos relatórios e pareceres de uma imensidão de instituições credíveis, parece haver uma evidência científica e estatística de que o desenvolvimento de um ser humano, através da sua passagem obrigatória pelo sistema educativo, deve ser visto na sua globalidade, isto é, da cabeça aos pés (e não apenas de uma forma estruturante através do Português e da Matemática)
Nessa perspetiva, questões tais como a compreensão, interpretação e expressão escrita e oral na língua materna e línguas estrangeiras, o raciocínio matemático, compreender e pensar sobre... e adquirir hábitos motores, estilos de vida saudáveis e comportamentos cívicos adequados, são certamente preocupações de todos os que com maior ou menor responsabilidade exercem atos educativos (Pais, familiares próximos, professores, treinadores, etc.).
Se acrescentarmos à ideia anterior o facto de inúmeras instituições considerarem que é importante mais tempo de atividade física, creio estarem reunidas condições mais do que suficientes para a convergência de vontades políticas em torno do reconhecimento da área disciplinar da Educação Fìsica e dos propósitos do Desporto Escolar como parte integrante e estruturante de uma Educação que desenvolva várias inteligências.
Independentemente da minha responsabilidade social e familiar é meu desejo, enquanto cidadão português, que possamos ser um país culturalmente mais desenvolvido, onde as atividades físicas e desportivas contribuem para uma população mais saudável, mais motivada, mais cooperante, mais empenhada, mais corajosa.
Não tenho dúvida absolutamente nenhuma de que haverá uma unanimidade e concordância (sustentada por estudos credíveis) de que o contributo da Educação Física e do Desporto Escolar serão determinantes para um futuro melhor, em qualquer nação. Assim possamos acreditar que, no futuro existirão mais médicos, engenheiros, arquitetos e demais profissionais capazes e saudáveis de corpo e mente, para darem vida a nossa nação.
Sem demagogias reforço que gostaria imenso de ter e viver num país com uma cidadania mais ativa e saudável, integrar e contribuir para um povo com mais literacia motora e mental através do que de melhor poderemos extrair das atividades físicas e desportivas (não confundindo com apenas Desporto e medalhas olímpicas).
Para que tudo isso aconteça precisamos de uma disciplina de Educação Física com mais tempo curricular de uma lógica curricular com mais tempo para se aprender e o tempo suficiente para se ensinar.
Na convicção de que possa existir sensibilidade política ao manifesto acima escrito, apresento os melhores cumprimentos. 

João Ribeiro

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Obama, ele próprio, afirma em entrevista que os EUA participaram activamente no golpe na Ucrânia

numa entrevista prestada ao canal televisivo CNN feita no passado dia 1 de fevereiro, o próprio presidente dos estados unidos, Barac Obama, confessou com a maior desfaçatez a participação do seu país na Ucrânia, assim: Os estados unidos tiveram uma participação ativa no golpe que levou autoridades pró-ocidentais ao poder na ucrânia em fevereiro de 2014. esta entrevista surge depois da denúncia feita pelo Canal Plus, emissora francesa de televisão, precisamente sobre esta participação estadunidense em Kiev.


o vídeo intitulado as máscaras da revolução é fruto de um trabalho investigativo do jornalista Paul Moreira para aquela emissora francesa, sobre a trágica situação da ucrânia, suas motivações e principais culpados.
provavelmente a entrevista dada em seguida pelo presidente dos estados unidos foi certamente para anular o impacto da denúncia que o vídeo, pode vê-lo aqui, do Canal Plus suscitou, inclusive no próprio parlamento europeu.



mas para nós esta não é uma novidade pois sabíamos que a intervenção dos eua intentava enfrentar a rússia, criando um foco de tensão, que entre outros aspectos provocaria um enfraquecimento económico naquele país. mas também não é novidade porque desde o golpe de 2014 vários foram os testemunhos daquela participação, nomeadamente a divulgada pela secretária-assistente de estado dos eua para os assuntos europeus e da euroásia, a senhora, Victoria Nulan, que hipocritamente agradeceu aos grandes empresários presentes, os 5 biliões de dólares que lhe tinham dado, para desestabilizar a ucrânia. ver vídeo aqui
 
no vídeo do Canal Plus ficamos a saber que as pessoas que intervieram no golpe foram pagos a 25 dólares/dia. a este propósito o secretário do tesouro norte-americano Laurence Summers disse que o dinheiro gasto não era para fazer trabalho de caridade, mas que a "ucrânia é a principal frente militar para os nossos interesses económicos". e de informação a informação também recentemente ficámos a saber que a ministra das finanças da ucrânia, Natália Jaresco, é americana de nascimento e naturalizou-se ucraniana para poder exercer o cargo.
são necessárias mais evidências para se perceber a falsidade que vai sendo propagandeada há anos por essa europa fora ?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Ler para querer

o plano nacional de leitura tem uma década de existência com resultados positivos para as crianças e jovens das nossas escolas. agora este plano vai virar-se para os adultos com ajuda também dos mais pequenos. acreditamos pois que jovens e menos jovens juntos possam de facto ler para querer como escreveu ana susa dias na sua crónica no diário de notícias que deixamos aqui.

Entrar numa biblioteca pública e deparar com o movimento de gente interessada a ler jornais, revistas e livros, com um bom bibliotecário a ajudar nas escolhas, é um gosto delicado, mais ainda se pensarmos no analfabetismo generalizado ainda há tão poucas décadas. Ganhar alguém para o prazer de ler deveria dar direito a um reconhecimento público, pelas múltiplas repercussões que esse passo pode gerar. Há infinitas maneiras de ganhar gosto pela leitura, caminhos mais confortáveis, famílias com muitos e bons livros, familiares e amigos que guiam a seleção. Por puro prazer, por curiosidade, por interesse num tema, por ser uma realidade próxima, por ser uma excentricidade louca, por traduzir em palavras o que uma pessoa sente, por transportar a imaginação para lugares desconhecidos. Listas intermináveis que passam por ter condições para suspender a corrida dos dias e ter um lugar para ficar sossegado a ler. E há a escola, e a escola que tem uma boa biblioteca, e professores que sabem estimular os alunos, tantas vezes contrariando as baixas expectativas. Cumpridos dez anos do Plano Nacional de Leitura, com resultados muito positivos, agora o caminho vai virar-se também para os adultos, contando até com a ajuda dos mais novos para contaminar os mais velhos. Depois de um trabalho aturado de 30 anos, mais de 2400 bibliotecas escolares a funcionar em rede, tal como existe uma boa rede de bibliotecas públicas, com mais ou menos dificuldades e muitas boas vontades. Se essa teia de cumplicidades se alargar a patamares onde os adultos se situam, num trabalho sistemático e organizado, então a eficácia pode ser maior. Há entre nós pessoas qualificadas para fazê-lo, capazes de formar mais gente para ensinar a saborear a leitura, profissionais que só esperam ter margem para atuar sem limitações burocráticas cegas. O Plano Nacional de Leitura vai por aí e só podemos aplaudir.

artigo do dn de 8 fev.2016

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

china não é a causa da crise económica global

a desaceleração na china e as quedas nas principais economias emergentes são as causas dos problemas económicos do mundo? este argumento baseia-se, em parte, na alegação de que as economias emergentes impulsionam a economia mundial. enquanto a participação do dólar do PIB mundial da china disparou apenas 4 por cento em 2002 para 15 por cento agora, ainda é muito menor do que a parcela do PIB mundial para os eua, que caiu de 32 por cento em 2002 para 24 por cento nesta altura. Isso mostra a tremenda expansão da economia chinesa. também mostra que os eua são fundamentais para as crises globais, sobretudo porque dominam os sectores financeiro e tecnológico do mundo. perceba o que está acontecer no sistema financeiro mundial no artigo de Heiko Khoo and Michael Roberts. (http://www.china.org.cn/opinion/2016-01/22/content_37638612.htm)

 

                                           Kim Kyung-Hoon/Reuters
 
The world's stock markets are spiralling downwards. The U.S. equity market fell 10 percent last month. Investor terminology calls this a "correction" not a crash. But prospects don't look good.
Big investors, banks and financial institutions are worried that China's economy is imploding and they expect a significant devaluation of the yuan. This would hurt other emerging economies and drag the rest of world, including the advanced capitalist economies into a global slump.
The economists at many investment banks, previously confident of economic recovery and lauding the great emerging market "miracle," are now in despair. For example, analysts at the Royal Bank of Scotland (RBS) just told clients to "sell everything" as stock markets could fall more than a fifth, while oil and other commodity prices could drop to a tenth of where they were just a year ago. RBS noticed a "nasty cocktail" of commodity price deflation, recession in emerging economies, capital flight by China's rich and by investors from other emerging economies, and the prospect of higher dollar debt servicing costs as the U.S. Federal Reserve raises interest rates this year.
Capitalism is an unplanned economic system that automatically experiences booms and slumps. The outlook of its sales staff is predisposed to wild mood swings - like those of a manic-depressive. They commonly alternate between exaggerated optimism and deep pessimism.
The doom-mongers concentrate on China. RBS analysts say that "China has set off a major correction and it is going to snowball… the epicentre of global stress is China, where debt-driven expansion has reached saturation. The country now faces a surge in capital flight and needs a 'dramatically lower' currency." Albert Edwards at Societe Generale, who predicted a deflationary slump during the last five years of global economic recovery, now says the Chinese crisis will lead to a global slump. "The western manufacturing sector will choke under this imported deflationary tourniquet."
Is China really to blame? There is no question that the Chinese economy faces numerous problems. Growth has slowed to under 7 percent on official estimates in 2015. When the Great Recession broke in 2008, the Chinese government reacted to falling export demand by launching a huge government-spending program focused on infrastructure. This succeeded. Interest rates were slashed and local authorities were allowed to borrow to spend on housing and other projects. However, Chinese non-financial debt rose from about 100 percent to about 250 percent of GDP. Total social financing, a broad measure of monthly credit creation, is now growing at nearly three times the rate of officially recorded money GDP growth.
There are some who argue that China must open up to more foreign and private capital. They say that China should privatize the big state owned companies and banks, end capital controls, and allow the Chinese yuan to become a freely fluctuating currency. Indeed, just before the Chinese stock market and currency fall began, the Chinese yuan was included in the IMF's international reserve currency basket. Therefore, the yuan is increasingly subject to the laws of the international currency markets and the capitalist law of value.
Higher debt, slower growth and an overvalued currency - now subject to speculation - produced China's stock market crash. Now rich Chinese and foreign investors are trying to get their money out of China or to convert savings into dollars - held abroad. China's wealthy class are moving about $100bn a month out of China. As Chinese dollar reserves are about $3.3trn and around half of that is needed to cover imports, if capital flight continues at the current rate, Chinese dollar reserves will be exhausted in about 18 months. Clearly such economic sabotage must be stopped.
The extent that China has opened its economy made it susceptible to currency and financial speculation. Although a weaker yuan boosted exports, it also encouraged rich individuals and Chinese companies to buy more dollars, legally and illegally. Last year the authorities propped up the stock market with extra credit and state-owned banks bought stocks. However, this fuelled even more debt. This policy was then reversed, provoking a stock market crash and credit squeeze.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

a propósito de um testemunho

acontece-nos por vezes na nossa existência quotidiana em que somos compelidos para um modo de viver apressado entre casa e trabalho e demais tarefas ordinárias em que estamos embrenhados, sermos confrontados com determinadas realidades, mais marcantes se forem contadas em primeira mão, numa prova cabal de vidas duras e quase sempre injustas. vida ou vidas que de súbito nos deixam impressionados, curiosos, tristes, mas também, quero crer, revoltados e indignados. é pois por um testemunho que me foi passado que esta crónica acontece.

 
propositadamente começarei com as palavras do falecido historiador hobsbawm, escritas noutro contexto, que servem para em parte explicar a carga emocional que este testemunho deixou a quem mo contou, porque de facto “ as palavras são testemunhas que muitas vezes falam mais alto que os documentos”. falam mais alto que os relatos em jornais e até mesmo de imagens na televisão ou internet. as próprias palavras proferidas por quem passou por horrores, por angústias, por medos indescritíveis, soam-nos como sentenças, no sentido de constituírem opinião justa e fundamentada e uma verdade esmagadora, verdade esta que nos larga depois em queda livre num sonho de uma esperança a renascer, porque diante de nós está alguém que à força da perseverança e coragem, luta para não emigrar da própria vida em si já exaurida.
 
 
conturbados são os tempos de hoje e conturbadas são por isso as vidas de milhões de pessoas. hoje poderosamente somos confrontados com os atentados, ubíquos, e com o drama, para escolher a palavra provavelmente mais aplicada quando os refugiados são o tema. e o testemunho que me chegou foi precisamente de uma refugiada da síria. podia ter sido da somália, do mali da ucrânia, da palestina, do iraque, do afeganistão, do paquistão, da líbia, da eritreia, da nigéria e de mais um punhado de países que sofreram a guerra, sofrem ou que a vão sofrer ainda. são ao todo, nas estimativas da nações unidas, mais de 60 milhões as pessoas de todo o mundo que se encontram deslocadas devido a conflitos armados ou perseguições, religiosas e políticas, na maioria dos casos. destes, mais de 20 milhões procuram asilo noutro país. asilo, aí está uma palavra que nos tempos que correm não significa exactamente uma protecção para quem necessita talvez por se saber que asilo não significa cidadania plena, igualdade plena, direitos plenos, justiça plena. se não veja-se o que acontece em países ditos civilizados como a dinamarca que aprovou em parlamento o confisco dos bens dos refugiados com valor superior a 1340 euros ficando ainda a porta aberta para as autoridades policiais passarem a ter agora licença para revistar tudo e todos à procura de valores escondidos e não declarados. mas também a suíça já fica com todos os bens que ultrapassem os 900 euros, a alemanha pensa seguir caminho idêntico e na holanda, o estado arrecada 75% do salário dos refugiados que são autorizados a trabalhar para pagar alojamento e alimentação.
voltemos à realidade da síria, onde um terço da população foi forçada a fugir, mais de sete milhões de pessoas, tal como aconteceu com o testemunho que me chegou. teve que fugir ilegalmente, e como muitos, fez uma travessia no “deserto” do mediterrâneo, onde já morreram milhares de pessoas, chegou à grécia, continuou a fugir até à macedónia e como ninguém a olhou, lhe deitou a mão, deu-lhe abrigo ou tirou-lhe a fome, continuou a sua fuga. chegou à sérvia, com fronteira fechada, seguiu rumo à hungria, que lhe negou também entrada da forma mais brutal, com arame farpado. a este saltou e à polícia, logo de seguida, teve a jovem mulher síria de correr floresta dentro para fugir de novo. sempre de fuga em fuga, sem saber e compreender os porquês profundos daquela correria louca.
 
hoje as notícias dos refugiados não são diferentes das de ontem, nem as de amanhã serão distintas. as imagens e palavras repetem o sofrimento, a morte e muito desespero. hoje sabemos que várias são as fronteiras (eslovénia, sérvia, croácia, macedónia ), mais vezes fechadas do que abertas, que impõem restrições à passagem dos refugiados, agravadas pelo rol de formalidades de identificação e registo por que são obrigados. penso que sabemos de tudo isto mas talvez sejamos menos a saber que vários são os estados de proximidade geográfica com a síria que nos trazem notícias não de integração de refugiados, mas de financiamento, recrutamento e treino, precisamente a quem tenta destruir a síria. é público o apoio da arábia saudita, do qatar e emiratos, por exemplo, ao isis. e da turquia, que recebe fundos da união europeia para servir de tampão à entrada de refugiados, e que sob o pretexto desse tampão, tem ao longo dos tempos deslocado civis e combatentes curdos, colonizando a fronteira norte da síria, enfraquecendo ou terminando mesmo com o apoio e interligação existente entre as populações curdas sírias, mas também iraquianas e turcas, que têm constituído eficaz oposição aos grupos radicais islamitas.

ler aqui crónica integral de martahluís 2016
https://files.acrobat.com/a/preview/9c966fe5-bde0-49a1-a777-b0f9d8e5f242